EDINETE ALENCAR GUIMARÃES
- UMA MULHER DE CORAGEM, UMA SENHORA DE VIDA EDIFICANTE -Ubireval
Alencar.
Foto da comemoração dos
80 anos. Faleceu aos 93 anos e um mês de idade (1916 - 2009).
No dia de hoje, 29 de março,
Edinete completaria cento e um anos. Viveu suficiente na criação, formação e
educação dos filhos. Aspirou o mais alto na construção da família. Ensinou-nos
com sua prática de vida o amor ao trabalho, o gosto pelos livros e pela
literatura. Foi mãe e mestra.
Edinete não teve tempo de
acompanhar a escolaridade que só muito tarde chegou a Mata Grande. Bebeu
diretamente na leitura de romances o aprendizado da criação textual e gosto
refinado pela linguagem.
Sabia de cor várias passagens
literárias dos romances de José de Alencar e Machado de Assis, e nos recitava
findo o jantar, antes mesmo de a energia ter chegado a nossas casas. Meu avô
materno, Joaquim Aureliano de Alencar (seu Quinca), que é oriundo do Ceará,
sempre o vi com livro aberto sobre o balcão da mercearia na rua de Baixo, onde
hoje o imóvel está alocado ao Banco do Brasil.
Edinete em um ano, pós
sessenta anos de idade, conseguiu ler toda Bíblia, durante as noites, sob a luz
elétrica, ou na sua falta com a lamparina acesa. O melhor é que retinha de
memória várias passagens bíblicas com questionamentos exemplares com padres e
pastores.
Uma mulher de propósitos e os
cumpria. Abraçou como esposo um homem mestiço cuja raiz paterna é de origem
negra. Mas do sogro jamais viu ou nos relatou arbitrariedades ou deslizes de
conduta privada ou pública. O filho José Veríssimo (Zequinha) foi o esteio e
patrocinador de formaturas das sobrinhas, sempre as presenteando com o famoso
"anel de formatura". O vovô era chamado na intimidade pelos netos de
Pai Veríssimo, tamanho era o sorriso gratuito e afetuoso. Dele não se via mau
humor ou desatenção a qualquer outro ser humano, no atendimento do armazém de
cereais, objeto de negócios entre pai e filho. Essa fina genealogia nos dá
muito orgulho.
Em vida, Edinete passou as
dores já recorrentes a muitas mães com as antigas estradas de barro. O
filho do meio, Ubirandir (Dido) teve a vida ceifada num acidente de carro no
retorno Delmiro a Mata Grande. Anos depois, Zequinha Veríssimo viria a falecer
com sequelas de próstata. Restam cinco filhos e inúmeros netos e bisnetos. A
cada reencontro dos irmãos, sempre temos o cuidado de recontar para ver se
algum está faltando.
Sentimo-nos honrados por
termos tido uma presença materna marcante e edificante. Edinete não chegou a
ver o filho "padre", sua grande aspiração religiosa. Mas contemplou
agradecida aos céus a prole numerosa de netos e bisnetos chegando, ano a ano.
Deixou amigas e vizinhança,
sendo prestativa no auxílio de mantimentos a pessoas carentes e que lhe faziam
préstimos do lavado de roupas, passadeiras, e torradeiras de café. O café
sempre foi fruto do próprio sítio, no casarão do Alto. Todo tempo que ali viveu
nunca precisou comprar café fora. Ali foram plantados e produzidos, ano a ano,
e torrados em tacho de cobre.
Como devota fiel da Virgem da
Conceição, Edinete cedeu terreno do sítio para elevação da Capela de Nossa
Senhora do Rosário lá construída e emoldurada na subida do Alto da Rua do João
Felix. Ao neo-sacerdote, padre Sizino Alencar, Edinete teve o prazer de
ofertar-lhe o CÁLICE da ordenação sacerdotal e celebração de sua primeira
missa, numa sublimação do cálice que o próprio filho elevaria em sagração. (Mas
eu pude, todavia, sorver outros cálices de alegrias e sofrimentos, como
personagem desse mundo de contradições humanas).
Os irmãos Ubiratan, Ubireval,
Ubiracyr, Cleide, Maria José nos congratulamos com a rememoração do dia do
nascimento de Edinete Alencar Guimarães (29 de março de 1916). Nenhum outro ser
humano nos teria legado esse carisma impresso em nossas almas, e inscrito como
tábuas mandamentais em nossos corações. Privamos e gozamos da
saudade, mais do que nunca real, composta agora numa AUSÊNCIA, que nos é
contínua PRESENÇA.
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