"PALITO" -
INVENTÁRIO DE MATA GRANDE ENCERRADO.
Chega a notícia do falecimento
de PALITO. ELE É O INVENTARIANTE E AGORA O ESPÓLIO CULTURAL DA CIDADE. Ah Bonsucesso e portal de entrada para
os que chegavam desde o século passado a Mata Grande.
Caminhões, ônibus precários mas utilíssimos, vinham com
toda poeira das estradas de piçarra
pedregosa.
Quando não, via placa de Guilé, se achegavam pela ladeira
do Cumbre, passando pelos riachos que serpenteavam a bela propriedade do
fazendeiro António Cândido. Com uma singularidade: ostentava um dente de ouro.
Sua propriedade é um remanso de gado, carneiros, guinés, que mais embelezavam
as lindas moças em formação. Se em tempo invernoso, campos e pastagens naquele
verdor admirável.
Lá, do Bonsucesso, um simples mas não rude homem,
de inteligência e memória privilegiadas, acordava atento a quem chegava de
fora. Em portas de bares, em volta da escadaria da Prefeitura, no turbilhão da
feira de sábado alastrando-se até o antigo Açougue, PALITO circulava, com
anotação das retinas, apossando-se do Inventário da Cidade, pessoas, fatos e
acontecimentos de toda ordem.
"PALITO" na verdade
é o fenomenal Luís Pereira da Silva, hoje com 96 anos de muita lucidez e
finesse. Casado com d. Benedita Nunes, pais de Manuel (Manuca) e Geraldo
Pereira Nunes.
No seu testamento familiar se
incluem uma nora escritora, Marcia
Machado Nunes (filha do conhecido porque muito simpático MOCINHO da Rua Nova),
e belo neto nas sendas eclesiais -
sacerdote recém ordenado, Pe. Márcio Manoel, hoje ou ontem fazendo Doutorado na
Universidade Gregoriana Romana, em Roma.
"PALITO" até pouco
tempo descia com seu guarda-chuva e chapéu Centenário. Parava na fonte João
Lalau onde potes e ancoretas se entulham, ouvindo nascimentos ou mortes nas
serras, diatribes políticas daqui, dali, margeava o Grupo Demócrito Gracindo e
hoje também o Colégio Estadual.
O Posto de Ze Maria era sua segunda parada. Lá tem notícia
da briga na Boa Sombra, e que o Cônego Aloysio Martins não mais está entre os
vivos.
Chegava à Loja do Merinho, onde o assunto é quem foi
nomeado pra Prefeitura, quem ficou sem cargo esperado.
Antes da Loja de Luís Brandão,
havia um Bar improvisado do Ismar Malta. Não era um Bar ipsis litteris , mas
uma agremiação em que se juntavam fofoqueiros e pabulistas de toda ordem. Só
não metiam a língua nas coisas da Igreja, mas a piada rodava solta sobre tudo e
sobre todos. Imperdível para os bons da pinga e da cerveja.
Moças pudicas apressavam o
passo ali na frente.
E chegava ao Bar de Noca. Aí
germinava o celeiro dos inveterados Ze de Bené, pai de Creuza de Ze Maria,
Temístocles, Virgílio Alencar, Dr Luís Luna Torres, POPÓ, Levi, Ze de Doro e
mais um cem números em rotatividade que a eternidade já os recolheu.
Que Grêmio Literário e
político girava nas falas, alguns
discursos, raras impreciosidades morais. E o melhor deles: com qualquer dos
forasteiros que ali circulasse, eles dividiam seu caldo de Cultura, irmanados.
Negro era "neguinho" mesmo, branco era "doce de leite". E
ninguem se sentia ofendido ou menosprezado
como essa pandemia de hoje de preconceitos e imelindres
bobos.
Esse passeio com a gente de
Mata Grande foi o Flash deste ilustre,
ate ontem com 98a vivo e altaneiro "PALITO". Seu bigode à moda mexicana
encobria a timidez natural. Mas os olhos são computadores de última
geração - Testamento e Inventário de Mata Grande. Agora
sossobra a lembrança na lacuna familiar. Tal como profeticamente sua Nora
Márcia enfatizava, restam APENAS LEMBRANCAS, título de sua obra memorialista.
Mas fatos e recordações imorredouras. Abraço fraterno aos familiares do eterno
P A L I T O.