quinta-feira, 9 de março de 2017

E A VIZINHA COMO VAI? - Joelder Pinheiro



E A VIZINHA COMO VAI?



Joelder Pinheiro Correia de Oliveira

Seminarista



            Com este título um tanto jocoso pretendemos refletir sobre uma realidade bastante atual nesta época já chamada de cibernética, a era da comunicação, que é, embora pareça contraditório, o problema da indiferença entre as pessoas.


            Há algum tempo, num pretérito não tanto distante, as pessoas se relacionavam com proximidade, muitas vezes até invasiva, numa relação dos sentidos: o abraço, o olhar, o ouvir, o falar. A vizinha sempre sabia o que se passava na casa ao lado, nem que tivesse que subir no muro ou encostar a orelha na parede se esforçando para ouvir algum ruído. A vizinha sempre sabia quem morava ao lado, tentava descobrir todo o histórico de vida, a procedência, o porquê da mudança para aquele bairro ou cidade, quantas pessoas migraram. Havia vizinhas tão antenadas que não só conseguiam dá conta do que ocorria na casa ao lado como do que acontecia no bairro inteiro ou até de grande parte da cidade.


            Atualmente não se pode perguntar mais: e a vizinha como vai? Mas se deve perguntar: quem é sua vizinha? Talvez muitos nem saibam que têm vizinhos! Obviamente não pretendemos dizer que bisbilhotar a vida alheia é correto ou deve ser feito, muito pelo contrário, é uma atitude muitíssimo feia e que deve ser evitada. Pretendemos mostrar que por trás destes atos feios havia uma realidade: as pessoas se importavam com as outras, com a sua existência. Pode até ser que as suas intenções em saber da existência delas não fossem as mais belas e virtuosas, mas simplesmente elas buscavam saber.


            As redes sociais hodiernamente se tornaram o quintal das casas: o facebook, o whatsApp, o instagram e assim por diante. O grande perigo disso é que muitas pessoas criaram também uma vida virtual, uma personalidade fictícia e desaprenderam a ser quem são realmente na vida concreta. Pensamos naquelas pessoas carismáticas nas redes sociais e antipáticas na vida real, conversadeiras no ‘zap’ e grosseiras em casa, sorridentes nas fotos do ‘insta’ e altamente fechadas e irritantes na convivência. Em outras palavras: as redes sociais facilitam a criação de um “falso eu”, de ser alguém que eu gostaria de ser e não sou; e, o pior, como na vida real esse eu sonhado não se concretiza, corre-se o risco de eliminar a vida real e alimentar uma vida virtual e imaginária.


            Onde isso tudo desemboca? Na relação com os outros. Como o eu só se realiza na fantasia do virtual, o outro não pode conhecê-lo pessoalmente. Logo, ao tempo que os meios de comunicação aproximam pessoas, também as distanciam, as isolam em seus mundinhos, na circunscrição de seu eu, muitas vezes imaginário. Não é de se estranhar quando ouvimos que vivemos em um mundo de indiferentes, onde as pessoas não mais se conhecem e nem se preocupam com as necessidades alheias.


            Em resumo: as redes sociais são instrumentos válidos e excelentes meios para aproximar os distantes, mas elas não devem eliminar a vida real! Os meios de comunicação devem aproximar pessoas concretas, de carne e osso, e não pessoas fictícias; mas essa proximidade com os que estão distantes não deve causar o distanciamento entre aqueles que estão próximos. O abraço, o sorriso, a atenção, o carinho, o olhar, o ouvir, o falar com aqueles que estão ao nosso lado deve ser resgatado urgentemente, não podemos alimentar essa triste realidade do indiferentismo. Enquanto muito se sabe dos distantes, muitos próximos ‘morrem’ sem que sejam percebidos. 


            Quando perguntarem: e a vizinha como vai? Não se deve responder que após bisbilhotar a vida dela, por meio de fofocas ou das redes sociais, sabe-se disso ou daquilo; mas se deve dizer: ela está de tal maneira porque eu percebi que ela precisava de mim e a ajudei; ou ela está feliz porque me partilhou uma grande vitória e estou feliz com ela. Porém, tem outra pergunta mais importante: quem é essa vizinha? É qualquer pessoa que nos cerca! Já dá pra perceber que esta pessoa não mais será simplesmente “a vizinha”, aquela que mora ao lado, e sim alguém próximo, que conheço e que me conhece, alguém a quem olho e me olha, que escuto e me escuta. Nossa sociedade seria outra se não fôssemos os distantes interligados pelos meios de comunicação, mas as pessoas ligadas pelo amor e pelo respeito.


            Portanto, pretendemos com esta reflexão acenar para a urgente necessidade de repensarmos as relações entre vida real e os meios de comunicação. Que as redes sociais sejam usadas de modo sadio e cumpram seu papel de comunicar e aproximar os distantes, mas jamais afastem os próximos, nem os releguem à indiferença, e que nunca sejam utilizadas para a farsa, para criar um eu mentiroso e inexistente.

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