Quem não lembra da época do natal em Mata Grande, onde o carrossel de Dona Minervina chegava de Santa Cruz do Deserto, armava ali no Beco de Noca e próximo ficava a onda de Mané Pistola?
Isto ocorria nos idos anos cinquenta e sessenta, a meninada contava os cinquenta mil reis antigos que correspondia a cinquenta centavos de cruzeiros, para se deliciar nas rodadas do carrossel.
Um fato interessante veio a minha memória, o meu pai Balbino Alves Bezerra, homem excessivamente católico não perdia uma missa aos domingos. Naqueles tempos a missa era em latim, celebrada pelo inesquecível primo Monsenhor Aloysio Viana Martins que tinha uma dicção invejável por qualquer cristão. Eu já fui coroinha e lembro de muitas coisas que respondia com precisão: DOMINUS VOBISCUM, ET CUM ESPIRITUS TUEM e outras mais, tudo decorado previamente. O meu pai tinha um Adoremos do qual não tirava os olhos.
Em um dia trinta e um de dezembro, dia da festa da nossa Padroeira Nossa Senhora da Conceição, o carrossel rodou a noite inteira. Pela manhã a dona Minervina amarrou o carrossel com uma corda e foi dormir lá no sobrado da Rua de Cima , onde hoje é a casa de João Durval o popular Dudú.
No dia primeiro de janeiro, quando eu ia para a missa com o meu pai, os meus colegas tinham desamarrado a corda e eles mesmo empurravam o carrossel e subiam para se deliciar sem pagar nada.
Que fiz, saí da missa de mansinho e retornei para o carrossel, uma beleza. Só que esqueci de retornar e quando me dei conta o meu pai já estava agarrado no meu braço. Me levou para a padaria, puxou o cinturão e levei aquela surra e fiquei de castigo até o meio dia em cima de uns sacos de farinha de trigo. Também foi a única que levei.
Há anos se fala no Mata Grande
Fest e eu há anos não passo um final de ano em Mata Grande. Este ano vou fazer
o possível para me fazer presente, mesmo que seja nos dias finais e ver como
estão as festividades mesmo sem o saudoso carrossel de dona Minervina.