Do lado esquerdo da foto, a Farmácia Alencar, com duas portas, que se ainda existisse, era a mais antiga do Estado de Alagoas.
DALVINO ALENCAR - O MÉDICO DE ALDEIA
Era ali na esquina da subida
da Rua de Cima (fica mais bucólico e tradicional dar nomes antigos das ruas),
que se instalara num modesto prédio a centenária FARMÁCIA ALENCAR, fundada pelo
patriarca João Gualberto Alencar. Seus filhos, Dalvino, Virgílio, João Gualberto Filho (Janjão), Cinira e
Eunice. Os dois primeiros se capacitariam em cursos de Enfermagem e dariam sequência ao
trabalho paterno.
Virgílio, permaneceu toda vida
um solteirão inveterado, embora se comente que teve produção avulsa de uma filha.
Era tão poético e profissional de
Farmácia quanto filósofo critico, de
sérios e abalizados julgamentos, além de
um dos mais devotos filiados
carnavalescos, em parceria com Luís Luna Torres (Luís Dentista), Zequinha Guimaraes, Zé de Bené,
Itamar e Mareval Malta, os filhos mais velhos
de Pompilio Brandão (Eraldo, Luís Celso, João Alvino, Laercio) e tantos como a turma de Popó, Levi, José e Luis
Brandão, inclusive a leva recém chegada
dos Barbosas (José, Antonio, Otacilio,
Natalício e Chiquinho).
Como em tantas cidades do interior do país, há
sempre farmacêuticos práticos com ou sem
titulação, prestando-se a substituir a
ausência do profissional da área médica.
Dalvino e Virgilio eram capacitados no ofício de leitura e interpretação de
bulas medicamentosas. Mata Grande vivia a carência de médicos e sem hospitais
para atendimento das urgências mínimas. Só a garantia de um homem capaz e
vocacionado poderia favorecer a população in loco e arredores, onde a todo
instante surgiam, ora idosos convalescentes, ora mulheres em trabalho de
parto.
Dalvino tinha vida módica e
bastante reservado, privando-se dos cuidados com ofício. Só veio a casar-se madurão , com Zuleide,
donde nasceu Sônia. Tinha, no entanto um filho, João Dalvino, cuja mãe se chamava Aurelina. E o médico prático já chamado Dr. DALVINO era
incansável. Franzino e de fala séria e meiga. Alto e esquelético, mas de uma elegância
incomum. Vestia-se de calça e camisa de linho branco em perfeita goma. Voava
rua acima, rua a baixo, a pé, em dedicação. Magérrimo, uma pena sobrevoando casas
e redondezas no atendimento de dores, cortes e ferimentos por arma branca e de
fogo. -"CHAMA O DR DALVINO!" Eram gritos de desespero a cada dia,
semana a semana, na intermitência das dores e sofrimentos.
O eficiente farmacêutico e médico
em exercício prático trouxe centenas de crianças ao mundo. Eram mãos divinas
acompanhando futuras mamães ou as de longa data na hora decisiva, em que a
presença moral é tão benfazeja quanto a proficiência do obstetra. Em tantas
madrugadas das dores de parto, Dalvino vigiava na conformação de uma fala
sacerdotal.
Acalentava esperanças e amenizava sofrimentos, mesmo quando o quadro
clínico lhe parecia irreversível. Não se
furtava a permanecer à cabeceira do moribundo na hora mais difícil. Muitos
encontraram refrigério e certeza da eternidade em seus braços.
E levaram anos - os dois irmãos - juntando trocados para comprar um
"jeep" visando sua clientela distante. Pois é. Já houve um tempo e
raro em que profissão era o exercício da dignidade e construção de um
mundo de homens de valores. Quanta falta
nos fazem Dalvino e Virgilio, nos dias de hoje.
(U. Alencar)
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