quarta-feira, 12 de abril de 2023

COISAS DO PORTUGUES

 COISAS DE PORTUGUÊS*

Vou coisar agora.

*Achei essa coisa fantástica!*

Francicarlos Diniz

(jornalista e escritor, pós-graduado em Comunicação pela USP)

A palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades.  É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma ideia.

"Coisas" do português.

Gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há "coisar": Ô, seu "coisinha", você já "coisou" aquela coisa que eu mandei você "coisar"?

Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha.

Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: Segura a "coisa" com muito cuidado / Que eu chego já."

Já em Minas Gerais , todas as coisas são chamadas de trem (menos o trem, que lá é chamado de "coisa"). A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trens que lá vem a "coisa"!.

E no Rio de Janeiro? Olha que "coisa" mais linda, mais cheia de graça...

A garota de Ipanema era coisa de fechar o trânsito! Mas se ela voltar, se ela voltar, que "coisa" linda, que "coisa" louca.  Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.

Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino.

Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!

Coisa também não tem tamanho.

Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira um monte de coisas...

Mas a "coisa" tem história mesmo é na MPB.  No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, a coisa estava na letra das  duas vencedoras: Disparada, Geraldo Vandré: Prepare seu coração pras "coisas" que eu vou contar..., e A Banda, de Chico Buarque: pra ver a banda passar, cantando "coisas" de amor... Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não estava nem aí com as coisas: “coisa" linda, "coisa" que eu adoro!

Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade afinal, são tantas "coisinhas" miúdas.  E esse papo já tá qualquer "coisa". Já qualquer "coisa" doida dentro mexe...

Essa coisa doida é um trecho da música "Qualquer Coisa", de Caetano, que também canta: alguma "coisa" está fora da ordem! e o famoso hino a São Paulo: "alguma coisa acontece no meu coração"!

Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar.

Uma coisa de cada vez, é claro, afinal, uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa.  E tal e coisa, e coisa e tal.

Um cara cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques.

Já uma cara cheio das coisas, vive dando risada. Gente fina é outra coisa.

Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.

A coisa pública não funciona no Brasil. Político, quando está na oposição, é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura.

Quando elege seu candidato de confiança, o eleitor pensa: Agora a "coisa" vai... Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!

Se as pessoas foram feitas para serem amadas, e as coisas, para serem usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras coisitas más.

Mas, deixemos de "coisa", cuidemos da vida, senão chega a morte, ou "coisa" parecida... Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento:

*"AMARÁS A DEUS SOBRE TODAS AS "COISAS".*

Entendeu o espírito da COISA?

segunda-feira, 10 de abril de 2023

A SEMANA SANTA DE 2023 - Germano

 

A SEMANA SANTA DE 2023 – Germano

 

Como sempre iniciamos a Semana Santa com o domingo de ramos. Este ano foi diferente, pois no ano passado eu e Icléa completamos 55 anos de união matrimonial e resolvemos adquirir na TUR MANGABEIRAS, um passeio a São Paulo. Na realidade era uma peregrinação religiosa, para Campos do Jordão, Aparecida ,  Atibaia e a própria Capital do Estado.

Registramos com alegria que toda a programação foi cumprida e também a paciência da guia Lúcia e do motorista do ônibus, Senhor Emerson que com desenvoltura atendia a todos. Vale registrar também a solidariedade dos participantes  da peregrinação, muitos dos quais já conhecíamos de  longas datas. 

Após chegarmos, cansados da maratona e de uma gripe adquirida em Campos do Jordão na altitude de uma serra com seus 2035 metros de altitude, de onde vislumbramos até a formação de nuvens, optamos por ficar na Barra de Santo Antônio.

Em Aparecida, participamos do terço e da missa, onde oramos e agradecemos a Deus e pedimos a proteção para os dias do porvir.

Em São Paulo, no domingo de ramos fomos assistir a missa na Igreja de Santa Efigênia, tendo em vista que o grupo era de Maceió, o celebrante, no final pediu para conhecer as pessoas. Perguntou a Icléa de qual cidade ela era. Quando ela disse que era de Mata Grande, mas que estava ultimamente na Barra de Santo Antônio, ele disse que era de lá. Resultado, somos amigos dos pais e primos dele. Foi uma coincidência bastante agradável.

Nos dias santos, ficamos na Barra, onde participamos ativamente dos ritos da Igreja Católica tanto na Igreja de Nossa Senhora da Conceição (erigida em 1753 pelos holandeses) bem como na Igreja de Santo Antônio, inclusive nas leituras das epístolas.

Foi uma Semana Santa diferente, por isto, agradecemos a Deus por nos permitir dias maravilhosos ao lado de  pessoas maravilhosas.

terça-feira, 4 de abril de 2023

MEU PAPAI NOEL

 

MEU PAPAI NOEL

La se foram os meus dias de Papai Noel! Minha rua, minha crença, minha inocência, tudo isso fez parte da minha infância e adolescência. Fui uma criança que contemplei os voos das borboletas nas margens do meu rio, outrora abundante em suas águas, às vezes barrentas, às vezes cristalinas. Adormeci sob o piscar das luzes dos pirilampos nos espaços da janela do meu quarto e sonhei os sonhos das fadas no meu universo pueril.

Meus dias não eram apenas um dia, mais uma eternidade, cuja estrada não tinha início nem fim. Fui uma criança que encontrou na felicidade, a razão de ser criança. Cantei com minhas irmãs as cantigas de roda na calçada da minha casa, pulei corda, arremessei o meu pião, joguei ximbra (bola de gude), me emocionei com a sinfonia dos pássaros e chorei com o canto fúnebre das rasga-mortalhas ao entardecer, retornando dos seus voos à torre da igrejinha do Monumento.

As rosas se desfizeram de suas pétalas para perfumar os caminhos por onde andei, sorri e chorei. Vi minha cidade, todos os anos, cantar as canções natalinas através do pastoril de Dona Jacira, a Fada dos nossos pastoris. Acreditei em Papai Noel e sua longa viagem, da Lapônia, sobre as nuvens, em seu trenó. Em Santana do Ipanema, nos dias que antecediam o natal, o nosso Papai Noel percorria algumas ruas do meu bairro fazendo entregas de presentes à meninada mais abastecida. Juntamente, com alguns amigos, todos os anos acompanhávamos o bom velhinho em sua árdua tarefa, carregando sobre os ombros o saco cheio de presentes. Papai Noel, cadê o meu presente? Somente, entendi, já nos meus quatorze anos de idade, que o nosso Papai Noel era um senhor por nome, Albertino Marques, e que, fazia a distribuição dos presentes, principalmente, nas residências do gerente do Banco do Brasil, de alguns comerciantes bem sucedidos, do juiz de direito, do delegado e bancários, etc.

No entanto, foi no natal de 1959, após ter acompanhado o Papai Noel em mais uma de suas missões de entregar presentes nas residências previamente endereçadas, foi justamente, neste ano, depois de inúmeras tentativas solicitando o meu presente sem obter resposta, e ver o bom velhinho jogar o saco vazio sobre os ombros, simplesmente eu disse: “Papai Noel fi di rapariga.” E saí correndo indo parar no campinho de Seu Abílio Pereira, ao lado do Tênis Clube Santanense.

Remi Bastos,

Aracaju, 16/12/2019.