sexta-feira, 5 de agosto de 2011

DICAS DE SAÚDE- ALCOOLISMO-Décadas de Negação.

Maceió (AL), 05 de agosto de 2011.

A vida de alcoólatra em recuperação é cheia de momentos que servem, todos eles, de exemplo para receber e transmitir experiências. Por mais singelas que sejam, essas experiências sempre ajudam aos outros, que compartilham conosco e procuram explicações sobre cada fase do alcoolismo e da recuperação.

Se ficamos atentos a cada abordagem, temos sempre uma analogia, uma comparação, um caso prático relacionado com o que diz a literatura de Alcoólicos Anônimos a respeito do comportamento do alcoólatra. Um desses exemplos é a negação, muito presente em nossas vidas.


Segundo a literatura relacionada ao assunto, negação é um estado que envolve o indivíduo, uma espécie de escudo, através do qual ele, seus familiares e amigos procuram sempre justificativas para tentar provar que ele não é alcoólatra. Nessas argumentações, sempre quem tem problema são os outros, quem é alcoólatra é sempre quem fez algo além do que aquela pessoa já fez, embora muito tenha feito sem deixar dúvidas de que tem problemas com o álcool. São pessoas que já causaram problemas na família, no trabalho, na vizinhança, mas cujo comportamento é atribuído a situações isoladas, que minimizam o problema e tentam afastar a caracterização real do alcoolismo, há muito já instalado.


No tempo em que eu bebia – lá se vão cerca de 21 anos – tinha um colega de copo que bebia comigo, freqüentava os lugares que eu freqüentava e tinha situação idêntica, mas nem eu nem ele achava que tinha problema. Quando compreendi que era alcoólatra e precisava de ajuda, procurei o A.A., ingressei e desde então nunca mais bebi. Consegui, graças a um Poder Superior, ficar afastado do primeiro gole durante todo este tempo.


Nos meus primeiros anos de A.A., naquela ânsia de trazer para a Irmandade todos os que eu achava que tinham problema com o álcool, comecei a abordar aquele colega. Ele dizia que não tinha tanto problema com o álcool, mas admitia algum dia participar de uma reunião. Faz mais de vinte anos e nunca me acompanhou.

De repente, estou em casa no meu café da manhã e recebo uma ligação daquele colega, pedindo informações sobre como proceder para ajudar a um alcoólatra que estava na sarjeta. Ele queria ajudar àquela pessoa, sabia que A.A. deveria ser seu caminho, marcou com ele e disse até para levar a mala no encontro que teriam para encaminhá-lo. Eu mostrei que o caminho poderia ser um hospital psiquiátrico próximo ao trabalho daquele colega, seguido certamente de Alcoólicos Anônimos, para o que forneci endereços e horários de reuniões dos Grupos mais próximos.


Percebi que ele ficou meio frustrado, mas estava com o problema para resolver. Achava que nossa Irmandade daria alojamento ao seu companheiro, mas ficou sabendo que A.A. não cuida de internações nem tem instalações para isto. Devem ter encaminhado aquela pessoa para a recuperação do seu problema. Mas tanto tempo depois ele, meu colega, findou me fornecendo um dos mais fortes e sérios exemplos de negação. Pois ele continua bebendo, já foi casado quatro vezes e desfez as famílias no dia-a-dia das suas bebedeiras, tem muitos problemas por conta da bebida alcoólica, mas continua achando que quem tem problema são as pessoas que o cercam ou que dele se aproximam.

Publicado na revista VIVÊNCIA Ed. nº 130

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