Gildo Marçal Brandão (1949-2010)
Maceió (AL),09 de agosto de 2011.
Hoje iniciei a minha navegação como internauta pelos recados do Orkut e para minha surpresa o orkuteiro Etevaldo Amorim me induziu a pesquisar no blog HTTP://magellablog.blogspot.com sobre o matagrandense Gildo o que não consegui, todavia, como ele me aconselhou, no Google também, conseguiria reunir outras notícias sobre ele.
Gildo nasceu em Mata Grande, na casa que ainda hoje pertence ao seu pai, embora totalmente reformada. Foi meu contemporâneo na adolescência, era um dos únicos que possuía um velocípede, também, ainda muito jovem veio estudar na Capital, e daí em diante poucas notícias tive dele, haja vista , ter se deslocado para São Paulo, onde veio a falecer , no decorrer do ano passado.
Era filho de José Brandão e Dona Eva, ele um ilustre promotor público e ela professora de renome, foi inclusive Diretora do Grupo Escolar Demócrito Gracindo, quando residiam em Mata Grande.
Gildo sempre teve algumas deficiências no coração, sempre falavam que ele não chegaria aos doze ou quinze anos de idade, porém, os seus pais procuraram os centros mais adiantados e ele ultrapassou todos os errôneos cálculos de vida que lhe atribuíram naquela época.
Por sermos primos pelo lado das famílias Alves , Bezerra e Mendonça sempre ia a casa onde residia uma vez que ficava localizada em frente a Padaria do meu pai Balbino Alves Bezerra.
Não sabia, todavia , do grande expoente que foi Gildo em terras paulistanas, uma vez que era renomado professor, cientista político e escritor muito respeitado.
Leiam agora alguns trechos que o grande jornalista Juca Kifuri,escreveu sobre ele, a saber:
A sua mãe... "recorreu a tudo que a medicina naquela época poderia fazer para salvar seu filho.
Assim, teve início uma batalha que durou quase sessenta anos, porque exatamente hoje Gildo completaria 61 anos de idade.
Mas essas seis décadas foram, sobretudo uma sequência de sofrimentos e sacrifícios inauditos desse alagoano fisicamente fraco, mas com fibra de aço. Volta e meia era internado em hospitais e sempre estava preso a dietas intoleráveis.
Duas vezes seu músculo cardíaco teve de ser aberto e na primeira delas sua vida dependeu da perícia do doutor Zerbini.
Recentemente, recorreram à implantação de um marca-passo, que, afinal, não impediu o enfarte que o derrotou anteontem.
Sua grande amiga, cardiologista do Incor, a doutora Ana Maria Braga, sempre nos advertiu: “Fiquem preparados para o que pode acontecer com Gildo”.
Então, na verdade, o sucedido anteontem foi um fato absurdo, mas anunciado, pois a falência de seu sistema cardíaco fora adiada durante seis décadas.
Em primeiro lugar pelo extremo cuidado recebido na infância e na mocidade, graças ao carinho de seus familiares.
Outros fatores básicos foram essenciais na formação dessa figura excepcional como teórico e militante político em nosso país.
Em segundo lugar contribuiu decisivamente seu profundo amor à vida, ao trabalho que realizava como cientista político, sua convicção de que suas pesquisas seriam de enorme importância para o futuro do país.
Note-se que fugiu de São Paulo para uma praia a fim de poder terminar a aula que deveria prestar na segunda semana de março.
Todos sentiam como seus deveres como professor o consumiam, embora sempre apreciasse as coisas boas da vida.
Não por acaso seu último de vida foi um passeio maravilhoso numa praia.
O outro fator básico que permitiu essa atividade espantosa foi o apoio absoluto, total e vigilante de Simone, sua companheira que tudo fazia para que Gildo pudesse viajar, tomar parte na vida social e manter em sua residência um afetuoso e acolhedor clima de amizade com inúmeros amigos, com estudantes estrangeiros que ali se hospedavam, e auxiliando os pós-graduandos orientados por Gildo.
A contribuição de Simone também foi essencial para garantir um melhor padrão de vida da família.
Pois bem, esse alagoano travou essa batalha sem se submeter às normas impostas a uma pessoa fisicamente frágil.
Sua vida é um exemplo de um envolvimento permanente com toda a sorte de dificuldades financeiras, políticas, policiais e de extremo amor a diversas instituições de pesquisa, particularmente a Universidade de São Paulo.
Agora a fatalidade o derruba quando dentro de um mês iria disputar o mais alto posto na academia, a função de professor titular da USP.
O ponto de partida de Gildo na universidade foi o estudo sistemático de filosofia, o que lhe deu uma base teórica que sempre lhe permitiu fazer análises profundas na ciência política e na sociologia.
Daí suas posições ao lado dos que no movimento comunista assumem uma atitude firme na defesa do valor universal da democracia e da firme disposição de aprofundar a correção dos erros cometidos pelos que se engajam na luta por uma sociedade mais justa.
Com orgulho Gildo Marçal Brandão relatava sua qualidade de militante comunista.
Relembro sua disposição de participar ativamente da rearticulação da direção comunista em São Paulo, quando a repressão policial assassinou diversos dirigentes comunistas em 1974 e 1975.
Naquele ambiente de absoluto terror, Gildo cuidou de reorganizar a direção estadual dos comunistas e participou do lançamento do semanário “Voz da Unidade”, que circulou durante vários meses.
Essa atuação criou um problema para ele, porque o afastou durante vários meses da vida acadêmica.
Assumiu o compromisso de uma participação teórica mais intensa no lançamento da revista “Temas de Ciências Humanas”, abordando aspectos essenciais da atividade comunista no Brasil e no mundo.
Para sobreviver viu-se forçado a trabalhar em várias publicações, na qualidade de “free-lancer”, inclusive na “Folha de S. Paulo”, quando foi acolhido por Cláudio Abramo.
Retornando à atuação na academia, Gildo jamais deixou de lado sua atuação destacada como um dos teóricos que dedica parte de seu tempo à elaboração programática do ideário comunista no Brasil e no mundo.
Comecei meus contatos com Gildo depois da minha saída da prisão, em 1979.
De início era um relacionamento distante, mas que foi se estreitando cada vez mais.
Com o passar dos anos diariamente debatíamos problemas e desafios. Tudo o que eu fazia submetia a ele. E ele sempre exigia minhas opiniões. Raramente discordávamos. Agora fico meio perdido sem saber como vou trabalhar sem antes ouvir suas observações.
Assim minha sensação é de perplexidade e de insegurança.
Mas tenho clareza em relação a um ponto.
A contribuição de Gildo foi poderosa e profunda, deixando dois importantes legados.
De um lado, foi sua colaboração intensa para a criação na USP — principalmente nos Departamentos de Ciência Política e de Sociologia — de um clima de renovação entre os professores, visando o aggiornamento do ensino superior no Brasil nas ciências humanas.
De outro lado, pode-se medir a repercussão de seu trabalho na USP através da formação de um grupo de doutores e mestres que leva em conta suas análises críticas.
Encerro minhas palavras fazendo um apelo para que esforços sejam feitos a fim de ser publicado o memorial preparado por ele para o concurso de professor titular da USP.
Documento que, no dizer dele, é um resumo de suas opiniões.
Assim, a divulgação dessa derradeira reflexão será a maior homenagem a um mestre cujo exemplo é um orgulho para a comunidade acadêmica brasileira.”
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Fala de Marco Antônio Coelho, no crematório da Vila Alpina, em São Paulo, 17 de fevereiro de 2010.
Parabéns, Germano! Esse ilustre matagrandense merece ser lembrado e reverenciado. Um abraço!
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