TIRADENTES - COMEMORAÇÃO DE UM FERIADO NACIONAL
- Ubireval Alencar
LEMA DOS INCONFIDENTES: "LIBERTAS QUAE SERA TAMEN"
(A LIBERDADE, AINDA QUE TARDIA)
A data de 21 de Abril é solene pela representatividade
cívica. Hasteamento de BANDEIRAS, grandes galas cívicas (desfiles escolares e
militares), mas há um peito represado pelo amor à Pátria. Um sentimento
nacional de verdadeiras condolências, no momento atual do nosso país.
JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER ( o TIRADENTES). Seu codinome
foi dado em razão de sua atividade principal, dentista. Mas era também um
comerciante e exercia funções militares. Dentre os articuladores do plano de
Independência Nacional, Tiradentes não era o mais influente. Havia ilustres
homens, poetas mineiros, como Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzada, e
grandes ativistas em busca dos ideais de liberdade e também ferrenhos
contestadores dos abusos da Coroa Portuguesa.
Tiradentes foi usado como principal "bode
expiatório" e o enforcaram em Minas. Em seguida seu corpo é trasladado
para o Rio de Janeiro e aí tem seu corpo esquartejado e exposto em
diferentes pontos da cidade, como referência-símbolo das reprimendas
autoritárias de época. Mais que uma recriminação, a exposição de
partes cadavéricas era a expressa Nota Pública para qualquer um outro que
intentasse revolta velada ou explícita, ou vislumbrasse a disseminação dos
ideias libertários.
Dois séculos e meio e nos indagamos: o que foi feito desse
espírito revolucionário e dos ideais de liberdade? O mesmo OURO que outrora nos
era subtraído e recambiado para Portugal, hoje ele é o OURO-PETRÓLEO, nascente
e riqueza potencial guardada no profundo dos nossos oceanos. Assim como dantes
o fizeram, empresários brasileiros, gerados nessa terra, o subtraem e entregam
de mãos beijadas a estrangeiros e continuados exploradores das nossas riquezas.
Valiosas quantias, incontáveis dólares que poderiam ser bem
aplicados em excelência da instituição médico-hospitalar. Doentes nas enxergas
públicas, vergonhoso corredor de amontoados humanos como se fossem mendigos da
ordem pública instituída. E foi dado um grito de liberdade no final do século
dezoito (1792).
Cada criança ou adulto hoje e a toda hora atingido por
balas assassinas não é fruto da sangria dos cofres públicos, agora mais que
deficitários no aparelhamento da ordem e da segurança pública? Viaturas e boxes
de policiamento em precário estado de conservação, e a ascendência e
aparelhamento dos profissionais do crime organizado, dando um banho de inveja
na quantidade e qualidade de armamentos frente aos do Poder Público. Total
inversão de valores e de sentimento nacional justo, humano. Enterra-se um
militar cravejado de balas por um bandido como quem se planta um pé de maconha
na horda do crime.
Os desníveis de escolaridade e instrução no país não é
o continuado esquartejamento de Tiradentes? No Estado do Maranhão, donde é
oriundo e filho notável José Sarney, ex-Senador, ex-Governador do Estado,
ex-Presidente do País, e membro atual da Academia Brasileira de Letras, teve a
ousadia de transformar um prédio histórico em São Luís de "Museu José
Sarney", vivíssimo. Sobrou-lhe a visão com excesso de narcisismo, mas
faltou-lhe o senso crítico diante da vergonhosa estrutura educacional do
Estado. Os filhos da terra, seus irmãos e coirmãos ainda caminham léguas a
pé para estudarem em taperas gotejantes. Para mitigarem a sede no caminho, eles
se utilizam, como caneco, da generosidade de uma folha de
mangueira e buscam um riacho do acaso.
"Ordem e Progresso"! Um mastro alegórico da farsa
positivista idealizada. A BANDEIRA como símbolo de uma nação é tripudiada.
Dá-se um formato de plena civilização e no seu anverso a verdade real das
injustiças alicerçadas, as negações de gestão e aprimoramento da vida cívica
e econômico-social. Decai o sentimento pátrio, o elã e euforia pertinentes
a um povo, uma nação.
Mas somos brasileiros e corresponsáveis pela busca da
liberdade que nos chegará ainda que tarde. O que se pode nesse momento concluir
é que, em cada criança morta em porta de hospital, em cada agonizante idoso
arquejando em autênticos cemitérios dos desvalidos públicos, em cada militar
cuja vida foi ceifada por uma emboscada bandida, e em cada registro de
analfabetismo em tantos dos rincões da nossa imensidão geográfica, dá-se,
vive-se, realiza-se o novo esquartejamento de Tiradentes.
Excelente texto, parabéns!!!
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