ANTÔNIO " CINTURA FINA"
UBIREVAL ALENCAR
Um ser dinâmico e excepcional
no trato com negócios, na finura de educação e bons modos na cidade.
Essencialmente hétero, usava bigode e barba feita, e bem casado com
uma simpática morena de seus trinta e cinco anos de idade, aformoseada em busto
e pernas cheias. Nada que fugisse à devida ordem para a convivência
interiorana de Cintura Fina.
Não se sabe por que razões lhe
deram esse apelido, endossado com bonomia pelo personagem. Talvez os passos
ágeis em movimentação na cidade, um cinturão que o apertasse além do habitual,
o certo é que o "Cintura Fina”, também denominado no dia a dia,
recebeu essa estranha caracterização por sua movimentação habitual, corpo
esguio e mais modelado a um formato de exercitante bailarino.
"Cintura Fina"
negociava couros, ou de bode ou de boi, às vezes intermediava compra de
cereais, nunca soube definir. Estive certa feita, em sua residência, lá na Rua
Nova, casa estreita, onde a esposa me recebeu e lhe preparava refeições. Mas o
que intrigava, contudo, era o som gutural do personagem, muito agudo e cujo
timbre não atingia o comum das vozes masculinas. Fino mesmo, e intrigante para
quem nunca o tinha ouvido falar, se comunicar. Muito provável nunca se
interessou por um tratamento fonológico corrigível. E com certeza essa
simbiose na composição de agilidade corporal, passos rápidos e curtos, bem
acinturado e com voz fina tenha levado à conclusão dos habitantes da cidade a
denominá-lo de Cintura Fina.
Tudo isso era pacificamente
administrado pelo Cintura Fina, nunca esboçando qualquer chateação ou revolta
por essa intitulação doméstica e citadina. Outros tantos personagens circulavam
na cidade, e já era hábito local esses apelidos benfazejos. Quem não lembra da
Maria Môca, Chica Rato, Mufula, Tição do Sobrado, Agnelo Bobinha, Mané Cumbá,
Palito, João de Santa, Mestre Fedor, Bolero, Popó, Bem-te-vi e Noca; Vavá
de Antônio Barbosa, Vevé de Pompílio Gomes, Vivi (a linda) de Antônio Cândido,
e os meninos de Dumouriez de "graças a Deus". Independia de
condição social ou suporte econômico das pessoas. Outro bem comum ao comércio
era o Bar do Cassaco. Mané cachacinha era um inveterado etílico na cidade.
"Cintura Fina"
circulava rua Nova, rua de Baixo, a todo momento, no desvelo de negócios que
lhe davam cobertura a uma vida saudável e simples. Sabe-se que faleceu na mesma
casa. Inimigos não comprou, também não viveu de farras, boas cachaçadas de bar
em bar. Era modesto nos seus hábitos, confiante na sua dignidade de cidadão, por
todo o tempo que andou e demorou na cidade.
Deixou seu rastro de curtas e
dignas amizades, aceitou-se plenamente na sua configuração de um possível
dançarino dos palcos da roça. Firmou-se com o que era, possuía e tinha de
tributo a dar aos concidadãos. Frequentava a Igreja Matriz ladeado da
companheira de seus dias. Homem, cidadão, marido, e sem dúvida um ser
realizado com a cintura encantatória e a fala inibidora dos demais não
conhecidos. Veio a tornar-se uma das personalidades que deixaram marca na Mata
Grande de tantos casais. Com esse suporte de gestor, o "Cintura
Fina" só concorreu para engrossar a fila dos memoráveis da terra.
Antonio Cintura Fina.
ResponderExcluirA fidalguia de um homem interiorano. A excentricidade de um apelido que enaltece um filho da terra. E o anonimato de uma familia composta pela singeleza de um personagem naturalmente gentleman.