sexta-feira, 19 de março de 2021

VENERANDA - FEITIÇO DE UMA NOITE - Ubireval Alencar

 

VENERANDA - FEITIÇO DE UMA NOITE.

 

Conhecida devotada serviçal da casa de seu Odilon e d. Elza. Pós período longo da padaria de seu Panta (Pantaleão), seu Odilon dominaria por anos o monopólio de pães, bolachas. A essa altura, as belas moças de d.Elza já começavam estudos em Maceió, com a construção da casa lá na praça das Graças, no Prado.

 

VENERANDA se tornara pau pra toda obra em Mata Grande: cozinhar, lavar e passar. Mas a beleza lhe tinha faltado na face nesses anos todos. Só era avistada em passagens rápidas pelas calçadas, sempre correndo com afazeres domésticos. Mas a fertilidade da mente adulta é descomunal. Não se sabe se a ideia partiu da turma de Luiz Dentista, se do grupo viciado nas calçada da Prefeitura. O certo ou a conversa se espalhou que aconselharam Veneranda a tomar banho à noite e usar bastante pó.

 

Seu Odilon ficava solitário à noite, e a tão dedicada secretária deveria cativar o patrão. Até então ninguém conhecia ou se falava de um namoro, casamento ou filhos da Veneranda. Abelhudos eram demasiados e com certeza acompanharam esta evolução. Tal não foi o espanto quando seu Odilon ao sair à noite da padaria e já encontra sua cuidadora esbranquiçada de pó. Aturdido com toda aquela pantomina, retruca o patrão: - Que é que é isso Veneranda? E a ingênua e pura senhora de quase sessenta anos lhe diz: "Na rua mandaram pra eu ficar cheirosa e bonita". Não é crendice nem imaginação popular.

 

Na terra onde surgiram Pereirinha, Zé Grilo, Zé Doidinho, tudo é possível e memorável. Ainda vejo a Madrinha Raquel, assim chamada, tão pequena e encurvada, subindo a rua de Cima com a trouxa de roupas pra passar. Dona Dolorosa e suas filhas carregadas de costuras na Rua da Cruz. Na Rua de Cima, Janjão debruçado à janela, e as bonitas moças de Feitosa e d. Nazaré Macedo enfeitavam as manhãs, e às noites havia o estridente toque das zabumbas.

Eram novenas em dezembro. O som dos tecladistas já afinava no clube Paz e Amor. Era um Natal. Era um Ano Novo.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário