VENERANDA - FEITIÇO DE UMA NOITE.
Conhecida devotada serviçal da casa de seu Odilon e d. Elza. Pós período
longo da padaria de seu Panta (Pantaleão), seu Odilon dominaria por anos o
monopólio de pães, bolachas. A essa altura, as belas moças de d.Elza já
começavam estudos em Maceió, com a construção da casa lá na praça das Graças,
no Prado.
VENERANDA se tornara pau pra toda obra em Mata Grande: cozinhar, lavar e
passar. Mas a beleza lhe tinha faltado na face nesses anos todos. Só era
avistada em passagens rápidas pelas calçadas, sempre correndo com afazeres
domésticos. Mas a fertilidade da mente adulta é descomunal. Não se sabe se a
ideia partiu da turma de Luiz Dentista, se do grupo viciado nas calçada da
Prefeitura. O certo ou a conversa se espalhou que aconselharam Veneranda a
tomar banho à noite e usar bastante pó.
Seu Odilon ficava solitário à noite, e a tão dedicada secretária deveria
cativar o patrão. Até então ninguém conhecia ou se falava de um namoro,
casamento ou filhos da Veneranda. Abelhudos eram demasiados e com certeza
acompanharam esta evolução. Tal não foi o espanto quando seu Odilon ao sair à
noite da padaria e já encontra sua cuidadora esbranquiçada de pó. Aturdido com
toda aquela pantomina, retruca o patrão: - Que é que é isso Veneranda? E a
ingênua e pura senhora de quase sessenta anos lhe diz: "Na rua mandaram
pra eu ficar cheirosa e bonita". Não é crendice nem imaginação popular.
Na terra onde surgiram Pereirinha, Zé Grilo, Zé Doidinho, tudo é
possível e memorável. Ainda vejo a Madrinha Raquel, assim chamada, tão pequena
e encurvada, subindo a rua de Cima com a trouxa de roupas pra passar. Dona
Dolorosa e suas filhas carregadas de costuras na Rua da Cruz. Na Rua de Cima,
Janjão debruçado à janela, e as bonitas moças de Feitosa e d. Nazaré Macedo
enfeitavam as manhãs, e às noites havia o estridente toque das zabumbas.
Eram novenas em dezembro. O som dos tecladistas já afinava no clube Paz
e Amor. Era um Natal. Era um Ano Novo.
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