LUIZA VILAR DE MENDONÇA : 10.10.1910 + 21.04.2000
Desde 1956, aos 12 anos de
idade, comecei a ausentar-me de Mata Grande, vida de seminário e estudos, e
somente acompanhava na igreja matriz, algumas presenças marcantes.
Entre tantos, o Sr. Balbino,
sempre assíduo às missas dominicais, fervoroso, um próspero negociante de
víveres, cereais, e que também mantinha uma padaria no mesmo local de comércio,
na chamada Rua de Baixo, hoje Ubaldo Malta. Sempre cabisbaixo nos passos,
compungido nas orações da igreja, ouvia atentamente as preleções do vigário, Pe.
Aloysio Viana Martins.
Havia a ala exclusiva para
os homens, à frente, diferenciada da ala feminina das inúmeras devotas, Tia
Dona, Tia Marieta, Ana Rosa, e tantas em maior número que o dos homens. Não me
lembro da presença do casal, embora em casa a família vivesse um silêncio de
separação. O silêncio dos filhos fora de casa complementava o silencio maior,
interno, de D. Luizinha. Raramente era vista à soleira da porta, durante a
passagem da procissão de N. S.de Conceição, em primeiro de janeiro , e de São
Sebastião, no dia 20 do mesmo mês, lá na Rua Nova, hoje Rua 5 de Julho.
Três lindas garotas - Helena,
Valderez e Valdecy - cresciam em graça, beleza, e estudos. Helena em breve
ganharia a capital, em busca de maiores estudos, e lá fez carreira toda a vida,
onde permanece aposentada; já Valderez e Valdecy cursavam o ginásio em Mata
Grande, vindo a inscreverem-se em concurso do Banco do Nordeste. Valderez, hoje
aposentada, mantém o mesmo enclausuramento
vivido na infância e Valdecy, também aposentada, vive na Capital do Estado.
Os rapazes, Faustino,
Guilherme e Hildebrando, tomaram destinos diferentes, rumando para São Paulo,
sempre uma expectativa e ambição de todos os nordestinos em avanços maiores ; e o mais novo, Germano cursaria estudos em
Mata Grande, logo vindo a enamorar-se da
filha muito atraente de D. Hilda e Sr. Otacílio, a bela Icléa. Bancário também
do Banco do Nordeste, bem-sucedido na carreira, hoje, aposentado, bacharel em direito,
agropecuarista e colunista social da memória de Mata Grande, é pai de Geovanna Lea, hoje competente médica
exercendo suas atividades em Brasília; Marcus Vinicius , bacharel em direito e
também agropecuarista; e Germano Enrico, contabilista; estes exercem suas
atividades profissionais em Arapiraca e Santana do Ipanema, respectivamente.
Que segredos guardou toda
vida D. Luizinha, deixando filhos tão esmerados na educação, prestimosos na
postulação de suas vocações para o trabalho e responsabilidade? Nunca se ouvia
qualquer queixa da senhora sempre recolhida, de vida pacata, e que se ausentou
das ruas e cultos religiosos na cidade. As moças, belas, sempre esboçavam um
sorriso comunicador, e transbordando alegria na boa convivência. Os rapazes,
comunicativos e simpáticos, jamais deixaram passar qualquer ranhura na vida em
família. A dignidade do lar, os laços de afeição vividos intra-muros sempre
foram as colunas que os mantinham e irmanavam. Uma devoção à genitora que com
certeza somente lhes incutia palavras engajadoras de conhecimento de vida,
apreço ao bem-estar e à convivência
maior entre os demais citadinos.
A casa da Rua Nova tornou-se
nas tardes ensolaradas um autêntico monastério. Havia uma reclusão de uma
senhora de linda presença, ausente dos festejos natalinos nas ruas da cidade,
um distanciamento dos cultos religiosos a que sempre tivera assiduidade, e, em
contrapartida, respirava-se o ar e temperatura que exalava daquela família com
filhos bem educados e todos se encaminhando nas sendas da vida.
Certas portas nunca se descerram,
já dizia o excelente Graciliano Ramos. A leitura do tempo e o passar das
gerações hão de ler nas consciências e corações atingidos toda uma razão de
ser, e só os que viveram, vivem hão de guardar consigo os matizes e motivos de
nossos passos certos ou erradios nessa existência. Importa o bem do ensinamento
que ficou impregnado em cada vida, em cada filho, e a bonomia de viver entre os
demais. Exemplos de mães que tudo fazem para poupar os filhos de aspectos
negativos ou menores jamais fomentariam em suas consciências um futuro
assassino, uma filha perdulária, um gestor irresponsável.
Uma mãe zelosa gestava dia a
dia, antevendo o futuro dos filhos, a linha de conduta e encaminhamento nos
passos das responsabilidades sociais futuras. E se fizeram homens e mulheres de
reputação ilibada. O silêncio da genitora os acobertou contra as perversidades
da vida mundana; seu enclausuramento de escolha
de mãe foi o longo preparatório da geração que viria ao mundo dar o seu
sim de responsabilizações.
As preces do pai religioso
os imunizou contra as pestes daninhas da sociedade de drogas e maus feitos. Se
não juntos toda vida, num mesmo lar, mas se tornaram os genitores guardiões da
célula maior da sociedade - a preservação dos filhos da influência perniciosa
de um mundo já em desvario. E ficamos com a imagem do homem devoto, Sr.
Balbino, presente aos ensinamentos
eclesiais, e a vida compungida e de recolhimento da senhora Luizinha,
guardando-se no anonimato de viver, existir e de ser mãe protetora. Os céus complementarão a leitura do
que a nós não é dado compreender.
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