Minhas Lembranças do Povoado
Morro Vermelho
Cresci no povoado Morro
Vermelho, e cada lembrança que carrego da infância é como uma joia guardada no
coração. O açude, imenso aos meus olhos de criança, era o nosso mar particular
— nos domingos, ficava lotado de gente tomando banho, rindo, vivendo.
Lembro da pequena escola,
simples, mas cheia de aprendizado e histórias. À noite, nas novenas, a fé
reunia todos. Dona Otília vendia cocadas deliciosas, e Seu Heloísio — o Lela —
nos encantava com seus pães doces acompanhados de cajuína fresquinha, que a
gente saboreava sentado nos batentes, ouvindo os fogos estourarem no céu. As
crianças corriam e brincavam em frente à igreja, e a barraca de Nossa Senhora
das Graças era parada obrigatória, cheia de cores, devoção e alegria.
As festas juninas eram mágicas
— com fogueiras, danças e comidas típicas que até hoje posso sentir o cheiro.
Na casa do meu pai, a porta estava sempre aberta. Peixe, pirão, mungunzá
salgado... Era certeza de mesa farta e coração acolhedor. Os amigos estavam
sempre por lá: Dionísio, Zé Menino, Geraldo Dose, Luiz Hermínio, Nena Pereira,
Zezinho Curió, Zinho de Aliseu — e tantas outras figuras queridas da nossa
história.
Brincávamos de chimbra, pião,
rouba-bandeira... Era liberdade pura, felicidade sem medida. Viver em Morro
Vermelho era crescer cercado de afeto, simplicidade e vida ao ar livre.
Hoje, o povoado cresceu. Temos
um posto de saúde e uma escola grande, bonita e bem equipada — que leva com
orgulho o nome do meu pai: Jeoval Barbosa dos Santos. Um homem que deixou sua
marca não só com o grande açude que construiu, mas também com os valores que
plantou em todos que o conheceram.
E eu sigo feliz, porque morar
aqui é um privilégio. É viver num lugar onde o passado e o presente se abraçam
todos os dias. E, acima de tudo, sigo carregando os ensinamentos que meu pai
deixou — de amor, generosidade e respeito ao próximo — como bússola para minha
vida.
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