terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

DIA DA SAUDADE - Walter Medeiros

 

DIA DA SAUDADE (30 DE JANEIRO)

Uma saudade a mais

--- Walter Medeiros

Há alguns anos a amiga jornalista e professora Nadja Lyra, então coordenadora pedagógica da Escola Municipal Santa Catarina, localizada no conjunto que tem este mesmo nome, convidou-me para proferir a Aula da Saudade dos alunos do 5º ano e sugeriu que falasse sobre “Saudade”.  Que coisa!

Passei uma semana refletindo sobre esse tema tão fascinante, a partir de experiências próprias, e versos dos poetas e músicos que tanto mexem com o nosso coração.

De cara fui logo aos anos 50, quando aprendia a ler no Grupo Escolar Professor Demócrito Gracindo (homenagem ao pai de Paulo Gracindo) em Mata Grande, cidade do alto sertão de Alagoas, aonde meu pai foi parar, matando mosquito da dengue, após passar pela guerra sem matar nenhum alemão.

Depois que aprendi a juntar as letras e sílabas, era belo entender o que estava escrito no pára-choque branco do caminhão de Nezinho, meu vizinho: “A saudade me fez voltar”. Ficava imaginando a saudade que ele sentia a cada viagem que fazia, com aquelas cargas altas de antigamente.

Em seguida, veio à mente um verso que não poderia deixar de citar na aula: “Itabira é apenas uma fotografia na parede / mas como dói!”, escrito por Drummond no seu poema “Confidências de Itabirano”. 

E o significado da palavra – substantivo feminino abstrato - segundo Aurélio: “Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia.”

Aí veio mais uma coisa interessante para aumentar a saudade, que tanto espaço ocupa nesse mundo: ela tem um dia para ser lembrada e comemorada. O Dia da Saudade – 30 de janeiro.

Vale lembrar que essa palavra não tem similar em nenhuma outra língua, e que espanhóis, ingleses, franceses, alemães e outros tentam expressar o sentimento de falta com frases inteiras, tipo “ich vermisse dish” (alemães).

Aquela platéia me reconduzia mesmo era à minha sala de aula, onde Professora Josefina Canuto me ensinava e, depois, no Externato Saturnino – já em Natal, a professora Maria das Neves trazia novidades. Coincidentemente a professora de uma das turmas se chama Neves. Impossível não lembrar de Ataulfo Alves, exclamando: “Que saudade da professorinha / que me ensinou o be-a-bá!”.

Para falar de saudade não poderia deixar de citar o Fado – gênero que tanto me toca e que tocou até Roberto Carlos, ao cantar Coimbra: “Aprende-se a dizer saudade”. Fernando Pessoa, em texto saudoso: “Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: quem são aquelas pessoas? Diremos... Que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!”

É claro que citei Casimiro de Abreu , cujos poemas eu os tinha decorados, e que versificou sua saudade da infância: "Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!".

Segui somando saudade das ruas onde morei, dos lugares por onde passei, dos amigos com quem tanto convivi, dos cafezinhos mundo afora, das paisagens memoráveis.

Dizem que saudade não deve ir para o plural. Seria mais emocionante, porém mais dolorido. Sempre usei essa palavra no singular.

Depois de tudo aquilo, fiquei, naturalmente, com muita saudade a mais.

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