DIA DA SAUDADE (30 DE JANEIRO)
Uma saudade a mais
--- Walter Medeiros
Há alguns anos a amiga
jornalista e professora Nadja Lyra, então coordenadora pedagógica da Escola
Municipal Santa Catarina, localizada no conjunto que tem este mesmo nome,
convidou-me para proferir a Aula da Saudade dos alunos do 5º ano e sugeriu que
falasse sobre “Saudade”. Que coisa!
Passei uma semana refletindo
sobre esse tema tão fascinante, a partir de experiências próprias, e versos dos
poetas e músicos que tanto mexem com o nosso coração.
De cara fui logo aos anos 50,
quando aprendia a ler no Grupo Escolar Professor Demócrito Gracindo (homenagem
ao pai de Paulo Gracindo) em Mata Grande, cidade do alto sertão de Alagoas,
aonde meu pai foi parar, matando mosquito da dengue, após passar pela guerra
sem matar nenhum alemão.
Depois que aprendi a juntar as
letras e sílabas, era belo entender o que estava escrito no pára-choque branco
do caminhão de Nezinho, meu vizinho: “A saudade me fez voltar”. Ficava
imaginando a saudade que ele sentia a cada viagem que fazia, com aquelas cargas
altas de antigamente.
Em seguida, veio à mente um
verso que não poderia deixar de citar na aula: “Itabira é apenas uma fotografia
na parede / mas como dói!”, escrito por Drummond no seu poema “Confidências de
Itabirano”.
E o significado da palavra –
substantivo feminino abstrato - segundo Aurélio: “Lembrança nostálgica e, ao
mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do
desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia.”
Aí veio mais uma coisa
interessante para aumentar a saudade, que tanto espaço ocupa nesse mundo: ela
tem um dia para ser lembrada e comemorada. O Dia da Saudade – 30 de janeiro.
Vale lembrar que essa palavra
não tem similar em nenhuma outra língua, e que espanhóis, ingleses, franceses,
alemães e outros tentam expressar o sentimento de falta com frases inteiras,
tipo “ich vermisse dish” (alemães).
Aquela platéia me reconduzia
mesmo era à minha sala de aula, onde Professora Josefina Canuto me ensinava e,
depois, no Externato Saturnino – já em Natal, a professora Maria das Neves trazia
novidades. Coincidentemente a professora de uma das turmas se chama Neves.
Impossível não lembrar de Ataulfo Alves, exclamando: “Que saudade da
professorinha / que me ensinou o be-a-bá!”.
Para falar de saudade não
poderia deixar de citar o Fado – gênero que tanto me toca e que tocou até
Roberto Carlos, ao cantar Coimbra: “Aprende-se a dizer saudade”. Fernando
Pessoa, em texto saudoso: “Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e
perguntarão: quem são aquelas pessoas? Diremos... Que eram nossos amigos. E...
isso vai doer tanto!”
É claro que citei Casimiro de
Abreu , cujos poemas eu os tinha decorados, e que versificou sua saudade da
infância: "Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida / Da
minha infância querida / Que os anos não trazem mais!".
Segui somando saudade das ruas
onde morei, dos lugares por onde passei, dos amigos com quem tanto convivi, dos
cafezinhos mundo afora, das paisagens memoráveis.
Dizem que saudade não deve ir
para o plural. Seria mais emocionante, porém mais dolorido. Sempre usei essa
palavra no singular.
Depois de tudo aquilo, fiquei,
naturalmente, com muita saudade a mais.
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