sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

MATA GRANDE DAS SAUDADES - Ubireval Alencar

 

AH MATA DAS SAUDADES. QUANTA SAUDADE DAS TRAVESSURAS DE UM MUNDO ENCANTADOR.

A pequena mas aconchegante rua de Baixo, uma travessa da grande Rua de Baixo ( Ubaldo Malta) até hoje.

Nas casas primitivas durante o período carnavalesco aí se realizava a Festa da Criançada. Não se permitiam bebuns maduros ou decaídos, para preservação da turma animada.

E diga-se de passagem: usávamos LANÇA-PERFUME original, sem drogas quaisquer, cujo cheiro incendiava a rua e casas.

Adultos, pais e familiares ficavam vigilantes a toda batucada,  com maravilhosas marchinhas estimuladoras.

Mundo imaginário,  do faz de conta, sem assaltos, roubos ou agressões. Inexistia diferença de classe social ou econômica e o congraçamento de raças dava mais beleza  em ver jovens louros, brancos abraçados com os que chamávamos carinhosamente de " neguinhos". O riso e pulos eram nossa irmandade .

No período da manhã o grande BOLERO instrumentista com seu trompete arrastava multidão indiferenciada  num misto de  frevo em que se metiam adultos, donos de lojas, mulheres empregadas domésticas,  desocupados da vida...

Pasmem, algumas casas de animadores ou carnavalescos de tradição se davam o prazer de abrir suas portas e grande parte da " curriola" ( turma de tocadores e musicistas) se fartava de guloseimas,  bebidas, água sobretudo,  desesperados de suor e calor.

Impossível pensar tempo tão bom, e ninguém tocava em objetos do outro.

Por trás daquelas casas onde habitavam D. Benedita Brandão,  dona de engenho, havia o sítio da D  Amélia,  espécie de estuário onde maiores acorriam para o banheiro público. Matas e touceiras também acobertavam adolescentes, durante o dia, que se exercitavam nos primeiros gozos da masturbação, recanto privilegiado para os mais crescidos. (Homens casados em geral sabiam das mulheres noturnas em seus devaneios pós jogos de baralhos altas horas da noite).

E a vida seguia, uns generosos tentavam ajudar ZE GRILO a subir a ladeira do Alto, encharcado da pinga Serra Grande. Notória a vida singular do Zé Grilo, encarregado principal do BOI DA CARROÇA DO LIXO .

A turma adolescente e muitos já casados ficavam no beco da ladeira a gritar e zonar com as quedas de Zé Grilo: BOTA O CEPO,  ZÉ GRILO  !!. Interminável tarde de gozação e bagunça por qualquer remanescente da cachaçada  da MANHÃ DE CARNAVAL.

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