terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

CASAR OU MORAR JUNTOS – Helena Carrera


 

Casar e morar juntos são duas coisas completamente diferentes. Não tem nada a ver com seu status no cartório. Tem a ver com entrega. Você pode casar com todas as honras. Dar uma festa linda. Gastar os tubos na Lua de Mel. Se mudar com o marido para um apartamento lindo, pronto, decorado, cheio de almofadas em cima da cama…

Vocês podem ter se casado – mas vão demorar muito pra saber o que é morar juntos. Acho que existem casais que se casam com pompas, e nunca talvez tenham realmente morado juntos.

Morar juntos é saber dividir. Saber cobrar. Saber ceder. Saber doar. Morar juntos é dividir as contas e as almas. Morar juntos é ter uma pilha de louça pra lavar, depois de um dia terrível de 10 horas de trabalho. E o outro cantar com você para que, em um karaokê com detergente, o trabalho se torne divertido.

Morar juntos é ter que assistir Homem Aranha no Telecine Action, e se esforçar para achar legal. Morar junto é tomar banho juntos. Transformar o chuveiro em uma cachoeira. (e o banheiro em um charco).

Morar juntos é ouvir onde dói no outro. Do que ele sente medo. Onde ele é criança. O que o deixa frágil. Morar juntos é poder chorar sem parar. E ser ouvida. E cuidada. Mas é também rir. E achar graça em alguma coisa, quando o outro está pra baixo.

Morar juntos é fazer contabilidade de frustrações, e saber quando não colocar na conta do outro. Morar juntos é demorar para levantar. Morar juntos não precisa de uma casa, e sim de um espaço. Quem mora juntos geralmente é solidário.

Casar não. Qualquer um casa. Pra casar basta assinatura e champanhe. Casar leva umas horas. Morar juntos leva tempo. O tempo todo.

Quando moramos juntos vemos o cabelo dele crescer e ela cortar uma franja. Quando moramos juntos viramos adultos aos pouquinhos, dando um adeus doído ao adolescente que éramos.

Quando moramos juntos mudamos juntos. E o outro vira um outro diferente com os anos. E nós vamos aprendendo a amar aquela nova pessoa, todo dia. Até o dia que, talvez, deixemos de morar juntos.

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