São João do Carneirinho
--- Walter Medeiros
Uma boneca de milho, bela, com
seus cabelos brilhantes, fascinava o sertanejo do alto sertão de Alagoas, Mata
Grande, cidade pólo criada por aguerridos desbravadores, entre as serras mais
altas daquele pedaço de chão tão ermo. Era o tempo em que Luiz Gonzaga já
cantava seu forró no escuro e contava sobre suas rezas para que seus pés de
milho dessem vinte espigas cada um. E invocava sempre São João do Carneirinho.
Depois daquela imagem tão bela
da boneca de milho, o sertanejo foi parar nos roçados de Tangará, Rio Grande do
Norte, que, havia poucos anos, tinha ganho este novo nome, pois antes
chamava-se Riacho. E na capital, Natal, brincava feliz da vida na quadrilha
junina do Arraiá do Xico Kareka, um sanfoneiro incansável e brilhante. Animava
meses seguidos os jovens da então rua Campo Santo, antecessora da atual avenida
Rafael Fernandes.
Ontem à noite, todas as
lembranças de muitas festas juninas afloraram ao chegar ao ginásio do Complexo
Educacional Henrique Castriciano, para assistir a apresentação da neta Letícia,
e participar do arraiá ED/HC. Que belas bandeirolas ornamentavam o arraiá,
enquanto as crianças soltavam seus fogos inocentes, mesmo que aparecendo um
estúpido para soltar uma bomba de parede, incabível naquele ambiente.
Graça e eu estávamos
acompanhados da amiga portuguesa Manuela, que participou, maravilhada, daqueles
momentos tão vibrantes. Da mesma forma que participamos, em Alfama, do São João
de Lisboa; participamos da inesquecível festa do Santo Antônio, em Santarém; e
conhecemos o São João do Porto. Sons, imagens e sabores impressionantes. Além
do martelo do Porto; das prendas de Santarém; e da sardinha frita e do manjerico
de Alfama.
A apresentação de ontem foi
espetacular. Bem executadas as músicas, as danças, as coreografias, as crianças
transmitiam uma felicidade contagiante, certamente resultante da sensação de
realização do evento. Os pais, as mães e demais parentes, sem dúvida,
completamente envolvidos e felizes com as fotos, os filmes e os cumprimentos
merecidos de todos aqueles que tiveram a felicidade de estar presente.
Depois, foi só sair com a
mente viajando por versos e melodias: São João do Carneirinho - Luiz Gonzaga -
"Eu plantei meu milho todo no dia de São José / Se me ajuda a providência,
vamos ter milho à grané / Vou "coiê" pelos meus "caico"(cálculo)
20 espiga em cada pé / Pelos "caico" (cálculo) eu vou
"coiê"(colher) 20 espiga em cada pé. / Ai São João, São João do
Carneirinho / Você é tão bonzinho / Fale com São José, / fale lá com São José /
Peça Pra ele me ajudar / Peça pra meu milho dá / 20 espiga em cada pé.".
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