terça-feira, 13 de junho de 2017

SÃO JOÃO DO CARNEIRINHO- Walter Medeiros



São João do Carneirinho
--- Walter Medeiros

Uma boneca de milho, bela, com seus cabelos brilhantes, fascinava o sertanejo do alto sertão de Alagoas, Mata Grande, cidade pólo criada por aguerridos desbravadores, entre as serras mais altas daquele pedaço de chão tão ermo. Era o tempo em que Luiz Gonzaga já cantava seu forró no escuro e contava sobre suas rezas para que seus pés de milho dessem vinte espigas cada um. E invocava sempre São João do Carneirinho.

Depois daquela imagem tão bela da boneca de milho, o sertanejo foi parar nos roçados de Tangará, Rio Grande do Norte, que, havia poucos anos, tinha ganho este novo nome, pois antes chamava-se Riacho. E na capital, Natal, brincava feliz da vida na quadrilha junina do Arraiá do Xico Kareka, um sanfoneiro incansável e brilhante. Animava meses seguidos os jovens da então rua Campo Santo, antecessora da atual avenida Rafael Fernandes.
Ontem à noite, todas as lembranças de muitas festas juninas afloraram ao chegar ao ginásio do Complexo Educacional Henrique Castriciano, para assistir a apresentação da neta Letícia, e participar do arraiá ED/HC. Que belas bandeirolas ornamentavam o arraiá, enquanto as crianças soltavam seus fogos inocentes, mesmo que aparecendo um estúpido para soltar uma bomba de parede, incabível naquele ambiente.

Graça e eu estávamos acompanhados da amiga portuguesa Manuela, que participou, maravilhada, daqueles momentos tão vibrantes. Da mesma forma que participamos, em Alfama, do São João de Lisboa; participamos da inesquecível festa do Santo Antônio, em Santarém; e conhecemos o São João do Porto. Sons, imagens e sabores impressionantes. Além do martelo do Porto; das prendas de Santarém; e da sardinha frita e do manjerico de Alfama.
A apresentação de ontem foi espetacular. Bem executadas as músicas, as danças, as coreografias, as crianças transmitiam uma felicidade contagiante, certamente resultante da sensação de realização do evento. Os pais, as mães e demais parentes, sem dúvida, completamente envolvidos e felizes com as fotos, os filmes e os cumprimentos merecidos de todos aqueles que tiveram a felicidade de estar presente.

Depois, foi só sair com a mente viajando por versos e melodias: São João do Carneirinho - Luiz Gonzaga - "Eu plantei meu milho todo no dia de São José / Se me ajuda a providência, vamos ter milho à grané / Vou "coiê" pelos meus "caico"(cálculo) 20 espiga em cada pé / Pelos "caico" (cálculo) eu vou "coiê"(colher) 20 espiga em cada pé. / Ai São João, São João do Carneirinho / Você é tão bonzinho / Fale com São José, / fale lá com São José / Peça Pra ele me ajudar / Peça pra meu milho dá / 20 espiga em cada pé.".

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