domingo, 5 de outubro de 2025

EPISÓDIO DE 3 DE OUTUBRO DE 1950

 

                                 EPISÓDIO DE 3 DE OUTUBRO DE 1950

 

             O município de Mata Grande tem sido palco de teatro de séries lutas políticas patrocinadas pelas oligarquias em busca do poder. Desavenças e agressões por parte dos poderosos sempre foram uma constante no alto sertão alagoano. Um fato ocorreu em Mata Grande. O senhor Moacir Peixoto era o proprietário da Fazenda Minagem e a estrada que dava acesso a Santa Cruz do Deserto e a cidade de Inajá, PE passava dentro de sua propriedade, onde existia uma cancela no meio dessa estrada. Certa noite o motorista do ônibus do senhor Antônio Augusto (A Sopa) quebrou a tal cancela e o gado da propriedade saiu causando grande prejuízo nas roças dos agricultores vizinhos. Moacir era uma, “persona não grata” aos políticos da situação, daí uma chance para ser perseguido. O delegado era um civil, amigo do chefe político que queria trancafiar o homem na cadeia. O fato não aconteceu por interferência do senhor Manoel Bezerra, que era o secretário, tomou a frente informando que o caso era de responsabilidade da prefeitura, sabia Bezerra que era o desejo dos políticos para desmoralizar o pobre homem que não lhes era simpático.

Em 1947 aproximavam-se as eleições de outubro para o primeiro prefeito eleito pelo povo. Candidatou-se o chefe político da situação (Eustáquio Malta) e ao mesmo tempo o chefe de oposição (Moacir Peixoto). Candidata-se, mesmo sabendo que seria difícil vencer as eleições contra um adversário poderoso apoiado pelo governador do estado, Silvestre Péricles. Até então o prefeito era o Senhor Manoel Bezerra, sendo exonerado tempo depois. 

O governador nomeia o novo prefeito, vira-se para ele e diz: Agora você vai exigir a destruição do homem da Fazenda Minagem, (Moacir Peixoto). O pleito corria normalmente e seu adversário tinha absoluta certeza da vitória, engano, o povo decidiu. Elegeu Moacir para representá-lo como prefeito. Governou o município por três anos. Passado quase três anos a política entra em fase de agitação, as coisas estavam tumultuadas, os ânimos foram aumentando, as novas eleições estavam próximas, a agitação e a tensão nervosa tomava conta, tudo indicava que algo de grave estava para acontecer.

Naquela terça feira fatídica, de 3 de outubro de l950 , dia das eleições, foi um dia de terror, aconteceu o que todos já esperavam. Na ocasião nosso sentimento era de estupefação. Todas as famílias ficaram impotentes e aterrorizadas. Não sabiam para onde caminhar. Candidato a Prefeito de Mata Grande o Sr. Eustáquio Malta, por outro lado, o Senhor Justo Gomes Freire que foi indicado para prefeito em 1947 pelo diretório municipal que fazia oposição a Moacir, agora apoiado pelo prefeito em exercício, Sr. Moacir Cavalcante Peixoto, candidato a deputado estadual, promovendo assim uma acirrada luta de poderes. 

O Sr. Moacir já havia se tornado desafeto por parte do outro candidato em outros momentos. O Senhor Eustáquio Malta, homem de personalidade forte, tornou-se inimigo do prefeito. A partir daí, os dois não mais se entenderam. O prefeito Moacir Peixoto tinha agora o apoio e as garantias do senhor Silvestre Péricles, que na época governador do estado de Alagoas. Por outro lado o Senador Ismar de Góes Monteiro, inimigo do governador seu irmão, dava apoio ao senhor Eustáquio Malta, ao chegar a Mata Grande às vésperas das eleições botou fogo na fogueira, uma vez que o senhor Eustáquio já havia decidido com a família que não iria participar do pleito eleitoral, e sim, recolher-se a Lagoa da Vaca durante o dia, voltando somente à tarde para votar. Sabia-se que dificilmente Eustáquio ganharia as eleições para o candidato apoiado pelo prefeito. 

As coincidências nem sempre são coincidências. Parece que os dois desafetos combinaram para sair de casa no dia das eleições no mesmo horário e na mesma direção, e chegaram às duas esquinas adjacentes ao mesmo tempo, ambas na Rua da Cruz, até então Gabino Besouro, hoje (Eustáquio Malta) próximas ao sobrado do senhor Sebastião, (Sé) que na época era o hotel e Pensão São Sebastião da senhora Maria Luiza.

Logo abaixo do sobrado do lado esquerdo funcionava uma coletoria que servia de seção de votação. O senhor Moacir Peixoto morava na Rua da Cruz próximo ao Grupo Escolar Demócrito Gracindo, e o senhor Eustáquio Malta na Rua de Cima, defronte à Câmara de vereadores antiga Escola Costa Rego. O senhor Moacir Peixoto, homem de tratos finos, sem revides a agressões estimulou aos desafetos a subestimarem o seu poder de reação. Próximos às duas esquinas começaram a discutir, patrocinando cenas dos filmes do velho faroeste, o duelo começou. Ambos sacaram suas armas atirando                                                                                     um contra o outro, daí travando-se um acirrado tiroteio logo nas primeiras horas da manhã, no dia das eleições, onde o Senador Ismar de Góis Monteiro, Isa Malta Gaia, a própria irmã de Eustáquio- Maria Geruza Malta, mesmo ferida fornecia munição para os entrincheirados na casa de seu irmão em defesa da família, e mais onze pessoas que foram feridas, em consequência desse lamentável acontecimento.

Perderam a vida o comerciante Eustáquio Malta, candidato a prefeito, e seus dois filhos, Sônia e Ubaldo Malta e um amigo da família, o senhor Napoleão Henrique. Na verdade Moacir Peixoto não matou Eustáquio Malta, ele sendo um exímio atirador e capaz de colocar uma bala dentro da outra a média distância jamais iria errar um tiro no tórax do seu opositor na distância que se encontrava. Eustáquio foi atingindo somente nas pernas, sem condições de se locomover foi arrastado pelo meio da rua pela senhora Adélia Bernardino Correia, mãe adotiva do senhor Noca, do local onde fora atingido até a porta de sua residência, nesse instante surge o Sargento Miguel Pereira da Polícia Alagoana olha para o senhor Eustáquio e diz: esse sujeito ainda está vivo! Com um fuzil na mão atira sobre a vítima pondo em fim a sua vida. Os seus filhos Ubaldo dezoito anos e Sônia dezesseis, foram mortos pelo soldado Maurício próximos a sua casa quando tentavam socorrer seu pai.

Uma triste cena que ficou guardada na memória de muita gente foram os corpos estendidos no chão durante quase todo o dia sem que ninguém tomasse as providências em removê-los. Durante a madrugada apenas um soldado do exército velava pelos esquifes, o povo ainda amedrontado não comparecia na casa dos mortos para velar os corpos.

No dia seguinte às oito horas Eustáquio, Ubaldo, Sônia e Napoleão iniciaram a sua última marcha pela face da terra. A política mal encaminhada conduziu ao cemitério quatro cidadãos que preparavam para votar. Saiu o cortejo com os corpos pelas ruas da cidade, ainda com a população assustada. O cortejo foi tomado de grande comoção até o cemitério local. A verdade que ninguém quer falar. Um senhor que morava em Mata Grande na década de 50 hoje em Maceió, pediu para não citar o seu nome uma vez que seu pai era muito amigo da família malta, especialmente de Eustáquio, e frequentador de sua residência. Fala que no dia das eleições logo nas primeiras horas da manhã o jovem Ubaldo se encontrava na Rua da Cruz (antiga Rua Gabino Besouro) falando em voz alta que hoje (naquele dia) o sangue ia correr em Mata Grande. O senhor Manoel Bezerra conhecedor da política local pediu ao jovem que parasse com as provocações e voltasse para casa, pois, tanto ele como a família corria perigo de vida, pois havia grande movimentação de policiais e guardas costas na casa do prefeito, inclusive, a senhora Dona Constança de Góes Monteiro, irmã do governador Dr. Silvestre Péricles de Góes Monteiro, estava na residência do Prefeito no dia das eleições, pois, era muito amiga da senhora Luzinete Peixoto, esposa de Moacir Peixoto. O prefeito tinha o apoio e garantias do governo do estado, colocando a polícia ao seu dispor, e a ordem era para acabar com a família malta da cidade se algo desse errado. Deu no que deu. Não morreu mais gente porque muitos fugiram da cidade e outros permaneceram dentro de suas casas.

Naquele ano várias cidades solicitaram garantias federais (Exército), pois, havia prenúncio de acirramentos nas disputas eleitorais. Já se previa tudo o que poderia acontecer, infelizmente, as forças federais que deveriam chegar a Mata Grande nas vésperas das eleições, terminou não acontecendo, talvez com a presença das mesmas tivessem evitado a tragédia.

As eleições foram suspensas, somente em novembro do mesmo ano elegeram um novo prefeito para a cidade, o senhor Luiz Gonzaga Malta Gaia. Mesmo assim o senhor Moacir Cavalcante Peixoto foi eleito deputado estadual com 465 votos. Após o tiroteio Moacir refugiou-se em Maceió, onde passou a despachar até o término do seu mandato de prefeito no dia 31 de janeiro de l951. Não assumindo a vaga de deputado por ter se retirado para o Estado de Goiás. Já havia ocorridas as novas eleições e eleito o novo prefeito para assumir o cargo em janeiro de l951. O senhor Manoel Bezerra era o secretário e administrava a prefeitura na ausência do prefeito. Certo dia que estava na prefeitura ouviu bater na porta dos fundos, ao abri-la deparou-se com o prefeito que acabara de ser eleito (Luiz Gonzaga Malta Gaia) perguntando o que deveria fazer diante das circunstâncias. Como o prefeito eleito era da família Malta e corria perigo de vida, foi orientado a sair de Mata Grande, juntamente com a família, não por medo ou covardia, mas, por precaução.

NOTA DO BLOG:

Transcrito do livro de Walter Alcântara.

              

 

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