Quando minha irmã Valderez
nasceu, eu caminhava com dificuldade, por isso, meu tio José Villar de Mendonça
pediu à minha mãe para eu ir passar uns dias na fazenda de sua propriedade, que
ficava localizada no Sítio Buenos Aires, zona rural de Mata Grande, Al.
Lá, o dia começava ao raiar da
aurora. Às quatro horas de manhã o reboliço começava dentro de casa. Meu pai
adotivo e meu primo já estavam com os empregados no curral, para ordenhar as
vacas. Não havia leiteiro. O leite passava do úbere da vaca diretamente para os
canecos de alumínio, que tão ansiosamente era por nós aguardado, em cima da
cerca de estacas que cercavam o curral.
Depois, tomávamos café com leite,
acompanhado de ovos, queijo de manteiga que era fabricado pela minha segunda
mãe. Tudo era feito artesanalmente. O café era cultivado lá, colhido, posto
para secagem, torrado com rapadura, em seguida pilado no pilão de madeira. O pó
do café era colocado numa chaleira de ferra com água fervente e um pedaço de
rapadura para adoçar.
Na casa de meus pais biológicos,
na cidade, onde fui residir com a idade de 7 anos para estudar, o leiteiro
vendia um litro, uma garrafa e meia garrafa de leite às portas das residências.
Em São Paulo, onde residi por
dois anos, minha cunhada, de origem espanhola, pediu-me que fosse à padaria
comprar um pacote de leite e uma bengala. Confesso que achei aquele pedido
muito estranho e fui pelo caminho pensando: que coisa esquisita: Existe leite
de pacote? E vendem bengala numa padaria? Fiz o pedido, com hesitação. Para
minha surpresa, o vendedor deu-me um pacote de leite e um pão comprido que era
a tal bengala.
Morar na cidade foi uma nova
experiência para mim, achava tudo muito diferente. Muitas casas junto umas das
outras e ficava admirada de ver tantas pessoas reunidas.
Na fazenda, as casas ficavam
distantes umas das outras. Não tinha telefone, nem luz elétrica, mas tínhamos
lamparinas e candeeiros. Nosso contado era restrito aos membros da família e
aos empregados. De oito em oito dias , meu pai ou meu primo iam à feira das cidades circunvizinhas para
comprar os víveres de que necessitávamos.
O período escolar começou. Fui
matriculada no Grupo Escolar Demócrito Gracindo de Mata Grande. Como eu não
sabia ir a à escola sozinha, meu irmão Germano tornou-se “um guia quase
perfeito”: escondia-se nas lojas e deixava-me sozinha na rua. Eu saía
caminhando a ermo. Lembro-me de uma vez em que subi uma ladeira que era ladeada
por eucaliptos. Fui subindo, subindo, quando já estava próxima aos degraus que
davam para a Igreja Matriz de Nossa e Senhora da conceição, ele gritou: “Volte!
Não é por aí” e eu voltei. Isso durou várias semanas, porque a cada dia, ele
tomava um caminho diferente.
Certa vez, quase fui atropelada
por um jumento, que estava perambulando pela rua., Contudo, caso isso acontecesse,
não seria um atropelamento tão grave, como o que aconteceu ao leiteiro do CONTO
de Carlos Drummond de Andrade, dedicado a Cyro Novaes.
NOTA:
Helena é minha irmã e tem boa
memória. Professora aposentada. Fala fluentemente, Português, Inglês, Espanhol
e Japonês.
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