Caçuá do tempo
--- Walter Medeiros
Vivi lá pelo sertão,
No cheiro do aveloz,
Pelo espinho do cardeiro,
Vendo a boneca do milho
E a Rosinha do amor.
Nada mais belo que as pedras,
Areia, poeira seca,
O entrançado das cercas,
O colorido do mato
E os bichos fazendo som.
Na sombra do umbuzeiro
Ouvi muitos passarinhos,
Vi um luar tão branquinho
Inda menino buchudo
Levava a vida a sonhar.
Agora o sonho é saudade
Do tempo que já se foi
Dentro de um carro de boi
Trancado num caçuá
Cheio de felicidade.
Caatinga adentro encontrava
Pelas plantas do destino
A mais bela flor vermelha
E vasos com mel de abelha;
Como meu mundo cheirava!
Mas ninguém faz o que quer
Fui parar noutros lugares
E aqueles belos luares
Agora apertam meu peito
Mas fazem a minha fé.
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