sábado, 23 de dezembro de 2023

ERA UM NATAL – Ubireval Alencar

 






 

ERA UM NATAL,  ERA UMA FESTIVIDADE.

A Costureira chegava logo cedo, pilha de panos pra camisas e calças ainda curtas. DONA era seu nome, de uma família longa, moradora lá da Rua de Cima.

Medidas tomadas dos meninos e o dia se estirava entre cortes, alinhavos e o barulho da costura movida a pedais humanos.

Uma dedicação total incluindo almoço de casa como breve intervalo. Assim DONA vigilante e ininterruptamente cuidava a tempo pra que cada um tivesse roupas novas para os dias de Natal e de Ano Novo.

Antes dela, as tias Evangelina e Dolores eram as boas costureiras da Rua Nova. Mas se foram em busca da civilização maior, levando consigo Lainha.

Na cidade ainda não se haviam instalado lojas com roupas prontas e pré-fabricadas. Levou décadas pra que seu Jari , Luiz de Catu, Luiz Brandão começassem a revenda dos bons artigos. Dá pra lembrar dos tecidos de brim como se fossem os jeans de hoje,  os chamados  cáquis tão duros, desconfortáveis que a clientela maior dos Sítios adquiria e se enfurnavam com tais vestimentas.

Em todo recanto da cidade havia uma máquina trepidando, novelos de linha, agulhas e botões em correria pra que ninguém se furtasse à recepção das Boas Festas.

Paralelamente a montagem da famosa ONDA e do CARROCEL,  parece do Seu Manoel Pistola, com ajuda de Panga-Lelê, avançava em frente ao prédio da Prefeitura,  ganhava iluminação extra com gambiarras de fios cruzando o céu da Rua de Baixo.

Mata Grande gestava no árduo trabalho das costureiras a grande Festa de ANO NOVO. Importava que a multidão de citadinos e sitiantes estivessem presentes à procissão da SENHORA DA CONCEIÇÃO ( dia 08 de dezembro)  mas comemorada no DIA 1o DE JANEIRO do ano que chegava.

Um misto de Festa profana e religiosa. E as Senhoras Costureiras comemoravam suas façanhas acompanhando uma a uma das moças,  senhoras e homens em geral, realizadas no suor dedicado à arte da linha e da agulha tomando feição na maestrina máquina ainda não elétrica.

Assim dizíamos,  assim relembrávamos na contagem de estórias: ENTROU POR UMA PERNA DE PINTO/ SAIU POR UMA PERNA DE PATO./ SEU REI MANDOU DIZER/ QUE CONTASSE MAIS QUATRO.

 


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