ERA UM NATAL, ERA UMA FESTIVIDADE.
A Costureira chegava logo
cedo, pilha de panos pra camisas e calças ainda curtas. DONA era seu nome, de
uma família longa, moradora lá da Rua de Cima.
Medidas tomadas dos meninos e
o dia se estirava entre cortes, alinhavos e o barulho da costura movida a
pedais humanos.
Uma dedicação total incluindo almoço
de casa como breve intervalo. Assim DONA vigilante e ininterruptamente cuidava
a tempo pra que cada um tivesse roupas novas para os dias de Natal e de Ano
Novo.
Antes dela, as tias Evangelina
e Dolores eram as boas costureiras da Rua Nova. Mas se foram em busca da
civilização maior, levando consigo Lainha.
Na cidade ainda não se haviam
instalado lojas com roupas prontas e pré-fabricadas. Levou décadas pra que seu
Jari , Luiz de Catu, Luiz Brandão começassem a revenda dos bons artigos. Dá pra
lembrar dos tecidos de brim como se fossem os jeans de hoje, os chamados
cáquis tão duros, desconfortáveis que a clientela maior dos Sítios
adquiria e se enfurnavam com tais vestimentas.
Em todo recanto da cidade
havia uma máquina trepidando, novelos de linha, agulhas e botões em correria
pra que ninguém se furtasse à recepção das Boas Festas.
Paralelamente a montagem da
famosa ONDA e do CARROCEL, parece do Seu
Manoel Pistola, com ajuda de Panga-Lelê, avançava em frente ao prédio da
Prefeitura, ganhava iluminação extra com
gambiarras de fios cruzando o céu da Rua de Baixo.
Mata Grande gestava no árduo
trabalho das costureiras a grande Festa de ANO NOVO. Importava que a multidão
de citadinos e sitiantes estivessem presentes à procissão da SENHORA DA
CONCEIÇÃO ( dia 08 de dezembro) mas
comemorada no DIA 1o DE JANEIRO do ano que chegava.
Um misto de Festa profana e
religiosa. E as Senhoras Costureiras comemoravam suas façanhas acompanhando uma
a uma das moças, senhoras e homens em
geral, realizadas no suor dedicado à arte da linha e da agulha tomando feição
na maestrina máquina ainda não elétrica.
Assim dizíamos, assim relembrávamos na contagem de estórias:
ENTROU POR UMA PERNA DE PINTO/ SAIU POR UMA PERNA DE PATO./ SEU REI MANDOU
DIZER/ QUE CONTASSE MAIS QUATRO.
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