sexta-feira, 11 de novembro de 2022

PEDRA DA SERRA - Walter Medeiros

 



 

PEDRAS DA SERRA

 

--- Walter Medeiros

 

No sertão onde eu vivi, o homem não deixa nada sem conhecer de perto. É curioso e procura os mínimos detalhes sobre sua vida e o ambiente que habita. E isso o leva a se acostumar com as cobras, as rochas e os espinhos. Ali pouco importa muita coisa que o desenvolvimento traz, principalmente quando leva vida simples. 

 

Foi por isso que subi a Serra da Onça, num convescote em certo domingo. Era muita gente. Quem já conhecia, ia mostrando os caminhos aparentemente impossíveis de seguir. Perigosos, porém não intransponíveis. A recomendação menor era com as coroas de frade. O maior cuidado, não escorregar.

 

A pé se foi até a serra. Muita disposição exigia-se para poder subir, mas todo preparo era pouco para evitar o cansaço. Todo ânimo ressurgia, ao sentirmos que estava próximo o cume, com seus segredos, suas lendas e rochas até hoje não visitadas.

 

A beleza da paisagem era muito grande. Todos ficavam a apreciá-la. Seguiam, porém, aos poucos, até se juntarem para comentar o medo de alguns, o desajeitamento de outros, as plantas nascidas das pedras. Soltávamos a imaginação, esquecendo até a quentura das rochas sob o calor do começo da tarde.

 

Conhecemos a Serra, nos divertimos e depois chegou, para muitos, a maior apreensão: descer de volta! Foi muita aflição junta, mas todos conseguiram. E a serra ficou lá, indiferente à visita, como representante dos poderes da natureza. Imortal, hoje talvez sem se abalar sequer com os anos de seca na região, que trazem penúria ao povo nordestino.  


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