PEDRAS DA SERRA
--- Walter Medeiros
No sertão onde eu vivi, o
homem não deixa nada sem conhecer de perto. É curioso e procura os mínimos
detalhes sobre sua vida e o ambiente que habita. E isso o leva a se acostumar
com as cobras, as rochas e os espinhos. Ali pouco importa muita coisa que o desenvolvimento
traz, principalmente quando leva vida simples.
Foi por isso que subi a Serra
da Onça, num convescote em certo domingo. Era muita gente. Quem já conhecia, ia
mostrando os caminhos aparentemente impossíveis de seguir. Perigosos, porém não
intransponíveis. A recomendação menor era com as coroas de frade. O maior
cuidado, não escorregar.
A pé se foi até a serra. Muita
disposição exigia-se para poder subir, mas todo preparo era pouco para evitar o
cansaço. Todo ânimo ressurgia, ao sentirmos que estava próximo o cume, com seus
segredos, suas lendas e rochas até hoje não visitadas.
A beleza da paisagem era muito
grande. Todos ficavam a apreciá-la. Seguiam, porém, aos poucos, até se juntarem
para comentar o medo de alguns, o desajeitamento de outros, as plantas nascidas
das pedras. Soltávamos a imaginação, esquecendo até a quentura das rochas sob o
calor do começo da tarde.
Conhecemos a Serra, nos
divertimos e depois chegou, para muitos, a maior apreensão: descer de volta!
Foi muita aflição junta, mas todos conseguiram. E a serra ficou lá, indiferente
à visita, como representante dos poderes da natureza. Imortal, hoje talvez sem
se abalar sequer com os anos de seca na região, que trazem penúria ao povo
nordestino.
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