Valha-me, Professor!
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Walter Medeiros – waltermedeiros@supercabo.com.br
A
perfeição da Natureza vai fazendo a vida fluir de tal forma que nos tira certas
coisas e pessoas, para depois percebermos o valor de cada uma delas,
exercitando sentimentos os mais diversos, preferencialmente bons sentimentos.
Os maus sentimentos, é preferível evitar, esquecer, deixar de lado, nem que
seja para comprovar o que os pesquisadores estão descobrindo com tanto
trabalho, ou seja, que sentimentos ruins geram ou acentuam enfermidades no
corpo. Então, melhor fazer por onde ser cada vez mais saudável.
Nessa
perfeição da natureza vêm algumas situações que poderíamos ver e sentir como
perdas, mas que findam sendo transformadas em saudade, boas lembranças, afetos
raros e inesquecíveis, levados pelo tempo, e que vez por outra afloram na
memória e no bater mais acelerado do coração. Um grande exemplo é a saudade da
professorinha, da professorona, de todos os mestres que nos ajudaram a viver,
seja qual tenha sido a vida que escolhemos viver, sejam quais tenham sido os
caminhos que optamos por trilhar.
No
Dia do Professor, chega-me uma tempestade de recordações desse tipo. A
lembrança da minha primeira professora, Dona Josefina Canuto, no Grupo Escolar
Professor Demócrito Gracindo, em Mata Grande – AL. Mulher dedicada e
entusiasmada, que até hoje tenho a felicidade de reencontrar, mesmo que para
isto demore muitos anos. Lembro da sua figura magra, saia azul, blusa branca de
mangas compridas, rosto belo, um anjo entre as crianças. Por muitos anos tive
diante de mim o colorido de alguns livros que ganhei porque dei algumas
respostas sobre as coisas do aprendizado. Como lembro de Dona Helena, que muito
me ajudou a aprender Matemática, pelo menos naquela ocasião, pois tem coisas
dessa matéria que até hoje não aprendi.
Depois
fui estudar na Escola Rural Professor Manoel Dantas, na Av. Prudente de Morais,
vizinho ao Senai. Que belas lembranças da professora Dione, ensinando a
desenhar e a usar técnicas fascinantes com naquim, onde colocava meus barcos e
as ondas dos meus mares. Ano seguinte, lá estava eu no Grupo Áurea Barros, onde
hoje funciona o Sindicado dos Professores. Ali já tive meu primeiro contato com
a caneta esferográfica, cujo perfume era extasiante e onde já tive certa vez de
levar aquele famoso recado de que no dia seguinte só entraria acompanhado da mãe.
Ano seguinte, o Grupo Escolar Professor Calazans Pinheiro, da saudosa
professora Dirce.
Tive
a sorte de alcançar um livro que tinha tudo que precisávamos para fazer o Exame
de Admissão ao Ginásio. Fui manter profundo contato com ele no Externato
Saturnino, em 1966. Fui aluno da professora Maria das Neves, de Dona Ione Paiva
e do saudoso professor José Saturnino de Paiva. Além de tudo que aprendi ali,
nos livros e fora deles, com a disciplina bem imposta, o estímulo à leitura, ao
ver nosso professor carregando e lendo revistas e jornais. Jamais esquecerei o
momento em que ele estava no alpendre e, quando eu ia passando, do alto da sua
idade e sabedoria, me disse - como se eu fosse um interlocutor à altura dos
acontecimentos: “A guerra pode acabar hoje”. Referia-se aos conflitos do
Oriente Médio. Nessa pequena frase de cinco palavras, ele na verdade me deu uma
grande aula, pois dali corri atento para saber a que se referia, esperando ter
condições de dialogar com o mestre.
No
ano seguinte, lá estava eu inaugurando a Escola Industrial Federal do Rio
Grande do Norte, na Av. Salgado Filho, depois de ter sido aprovado na prova de
ingresso realizada na antiga Escola Industrial de Natal, da Av. Rio Branco. Ah!
Quantos mestres encontrei ali: Mirian Coeli, Eulício Farias de Lacerda,
Expedita Medeiros, Anaíde Dantas, Vilma Leiros, Názaro, Nivaldo, Natanael,
Fátima, Severino, Inalda, Mitsi, Renè e Perigoso. Até os inspetores eram
educadores e respeitados, como os professores Laércio, Adilson e Aércio.
A
trajetória continuaria no Instituto Padre Miguelinho, onde cursei o Científico
de Engenharia, aprendendo com os professores Agamenon, Damião Pita e Maria
Tereza, entre outros; e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde
cursei Direito. Foram tantos professores, tantas lições, tantos gestos, que dão
a dimensão do magistério. Uma legião de sonhadores que nos ajudam a compreender
o mundo e nos levam também a sonhar. Como o professor Edgar Barbosa, a mostrar
a força que podíamos ter mesmo nas situações mais adversas; e Varella Barca,
que além de ensinar tomava a frente e lutava junto por melhores dias para o
Brasil.
Neste
15 de Outubro homenageio a todos os Professores, a quem cabe responsabilidade
tão grande na humanidade. Em meio a tudo isso, como que atraído pelo quadro
negro, pelo giz, pelas aulas que mais me interessavam, lembro que construí um
mundo em meio ao que o compositor/poeta sonhava, com festa trabalho e pão.
Findei casando com uma professora – Graça, cuja trajetória construiu o mundo
melhor de muitas crianças, hoje com mais idade. E esse mundo fascinante da
Pedagogia continuará me rondando, pois agora a nossa filha Mônica é professora
também. Mas a festa deste dia é de todos: professores e alunos. Feliz dia do
Professor!
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Na foto, a professora Josefina e eu.
Na foto, a professora Josefina e eu.
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