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quinta-feira, 28 de abril de 2011
ESPAÇO CULTURAL - O Sertão da Minha Terra
Pequeno folheto para o sertão da minha terra
--- Walter Medeiros
Cidadão, caro leitor,
Dessa vez eu vou contar
Coisas de admirar
Que vivi no interior;
Morando entre as serras
Onde era a melhor terra
Num tempo que já passou.
Foi lá no alto sertão
Interior de Alagoas,
Que um monte de coisas boas
Pra minha admiração;
Eu passei em minha infância,
Que era um tempo sem ânsia,
No bater do coração.
Pra melhor lhe situar
Quero dizer como era
Sem remancho nem espera
A paisagem do lugar
Era um canto tão lindo
Que pela serra subindo
Demorava a chegar.
Tinha uma linda igreja
Onde a gente ia rezar
Outros iam namorar
Inda hoje se corteja
Soltavam até foguetão
Para comemoração
Com salgado na bandeja.
Na frente, uma pracinha,
Para onde todos iam
Não importa o que faziam
Não tinha gente mesquinha,
Eucaliptos cheirosos
Rodeavam majestosos,
A festa das criancinhas.
Tinha um cruzeiro na serra,
Destino das procissões,
Chegavam até missões,
Muito carneiro que berra,
Melão Caetano no mato,
Pinto, porco, galo e pato,
Espalhavam-se na terra.
Na feira, vendiam tudo,
Cobertor para o frio,
Lamparina e pavio,
Alparcata e canudo,
Corda, arreio e limão,
Roupa, picolé, sabão,
Até disco de entrudo.
Tinha ainda refeição,
Jerimum, carne de sol,
Casinha de caracol,
Ferrolho, lápis, carvão,
Até cachaça vendiam
E muitos dos que bebiam,
Findavam o dia no chão.
Mas na rua em que morava
Ouvia samba-canção,
Boleros, que emoção!
Era ali que eu brincava,
Tinha jipe, caminhão,
Passava até lotação,
Com o povo que viajava.
E vinham os carros de boi
Trazendo coisas da roça
De choupana ou de palhoça
Eu me lembro quando foi,
Pois eu pegava carona
Até debaixo da lona
Do carro de Zé Totôi.
Lembro-me daquela estrada
Meu pai fumando charuto
Um casamento matuto
A noiva toda enfeitada
Depois o arrasta-pé
Você sabe como é,
Uma poeira danada.
Mas nem só de alegria
Se vive lá no sertão,
Pois morrendo um cidadão
É feita uma romaria,
Cantando as inselença
Ali todo mundo pensa
No fim dos seus próprios dias.
Levei carreira de touro,
Caí até de cavalo,
Vi gente sangrando galo,
Eu tinha um grande tesouro,
Mel de abelha na mata,
No bolso nenhuma prata,
Mas valia mais que ouro.
Carreguei água em galão,
Chupei picolé no bar,
Vi o circo se armar,
E um palhaço do pernão,
Papangu no carnaval,
Que vida fenomenal,
A vida lá no sertão.
Era tudo muito bom
Cada um no seu lugar
Mas algo de arrepiar
Ás vezes mudava o tom
Pois pra resolver intriga
Tinha quem fosse prá briga
E o tiro virava som.
Ah! como lembro do dia
Em que ao amanhecer
Minha mãe chamou pra ver
A cena que se estendia
Pela calçada da gente
Uma cena diferente
Que quase que eu não cria.
Três ciganos estirados
Mortos em um tiroteio
Sem direito a esperneio
Foram logo baleados
O grupo pouco pacato
Era formado por quatro
Com mais um do outro lado.
O enterro foi chocante
Sem caixão e sem escala
Botaram em uma vala
O grupo de provocante
Que detratou a cidade
E não teve piedade
Mas encontrou a Volante.
Porém vamos retornar
Para as lembranças boas
Que não são petas nem loas
Pois pretendo inda contar
Das minhas contemplações
Carregadas de emoções,
De sol, de chuva e luar.
Creia que nem energia
Dessa que hoje se tem
Chegava ali nem além
Isso não se conhecia
Quando chegou Paulo Afonso
Para substituir o Ronson
E até hoje alumia.
Quando vejo aquela Igreja
Lá no alto da cidade
Sinto uma forte saudade
Tanto que até lacrimeja
Meu olhar quase cansado
Que não esquece o passado
Esteja onde quer que esteja.
FIM
FONTE: www.rnsites.com.br
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