quarta-feira, 5 de abril de 2017

CINTURA FINA - Ubireval Alencar



ANTÔNIO " CINTURA FINA"
                                                                                           UBIREVAL ALENCAR


Um ser dinâmico e excepcional no trato com negócios, na finura de educação e bons modos na cidade. Essencialmente hétero, usava bigode e  barba feita, e bem casado com uma simpática morena de seus trinta e cinco anos de idade, aformoseada em busto e pernas cheias. Nada que fugisse à devida ordem para a convivência interiorana de Cintura Fina. 

Não se sabe por que razões lhe deram esse apelido, endossado com bonomia pelo personagem. Talvez os passos ágeis em movimentação na cidade, um cinturão que o apertasse além do habitual, o certo é que o "Cintura Fina”, também denominado no dia a dia, recebeu essa estranha caracterização por sua movimentação habitual, corpo esguio e mais modelado a um formato de exercitante bailarino. 

"Cintura Fina" negociava couros, ou de bode ou de boi, às vezes intermediava compra de cereais, nunca soube definir. Estive certa feita, em sua residência, lá na Rua Nova, casa estreita, onde a esposa me recebeu e lhe preparava refeições. Mas o que intrigava, contudo, era o som gutural do personagem, muito agudo e cujo timbre não atingia o comum das vozes masculinas. Fino mesmo, e intrigante para quem nunca o tinha ouvido falar, se comunicar. Muito provável nunca se interessou por um tratamento fonológico corrigível. E com certeza essa simbiose na composição de agilidade corporal, passos rápidos e curtos, bem acinturado e com voz fina tenha levado à conclusão dos habitantes da cidade a denominá-lo de  Cintura Fina. 

Tudo isso era pacificamente administrado pelo Cintura Fina, nunca esboçando qualquer chateação ou revolta por essa intitulação doméstica e citadina. Outros tantos personagens circulavam na cidade, e já era hábito local esses apelidos benfazejos. Quem não lembra da Maria Môca, Chica Rato, Mufula, Tição do Sobrado, Agnelo Bobinha, Mané Cumbá, Palito, João de Santa, Mestre Fedor, Bolero, Popó, Bem-te-vi e Noca; Vavá de Antônio Barbosa, Vevé de Pompílio Gomes, Vivi (a linda) de Antônio Cândido, e os meninos de Dumouriez de "graças a Deus". Independia de condição social ou suporte econômico das pessoas. Outro bem comum ao comércio era o Bar do Cassaco. Mané cachacinha era um inveterado etílico na cidade.

"Cintura Fina" circulava rua Nova, rua de Baixo, a todo momento, no desvelo de negócios que lhe davam cobertura a uma vida saudável e simples. Sabe-se que faleceu na mesma casa. Inimigos não comprou, também não viveu de farras, boas cachaçadas de bar em bar. Era modesto nos seus hábitos, confiante na sua dignidade de cidadão, por todo o tempo que  andou e  demorou na cidade.

Deixou seu rastro de curtas e dignas amizades, aceitou-se plenamente na sua configuração de um possível dançarino dos palcos da roça. Firmou-se com o que era, possuía e tinha de tributo a dar aos concidadãos. Frequentava a Igreja Matriz ladeado da companheira de seus dias. Homem, cidadão, marido, e sem dúvida um ser realizado com a cintura encantatória e a fala inibidora dos demais não conhecidos. Veio a tornar-se uma das personalidades que deixaram marca na Mata Grande de tantos casais. Com esse suporte de gestor, o "Cintura Fina" só concorreu para engrossar a fila dos memoráveis da terra.



Um comentário:

  1. Antonio Cintura Fina.
    A fidalguia de um homem interiorano. A excentricidade de um apelido que enaltece um filho da terra. E o anonimato de uma familia composta pela singeleza de um personagem naturalmente gentleman.

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