terça-feira, 28 de junho de 2016

CAJU, CAJUÍNA E PRONTO - Walter Medeiros






Caju, cajuína e pronto!



--- Walter Medeiros



A natureza tem muitos encantos, mas alguns deles são verdadeiras dádivas a uma parte privilegiada. Em qualquer lugar do mundo as pessoas tem suas belezas, seus sabores devidamente localizados, mas isso não tem nem comparação com o sentimento do nordestino em seus contatos com esta natureza. Refiro-me a um fruto, uma fruta, um pseudofruto, como quiserem chamar, com que convivo desde criança e guardo de forma marcante meus melhores contatos com ele: o caju.



Longe de mim intenção de rastrear a história do caju, mas pelo que se sabe é mesmo nativo do Brasil, mais precisamente do nordeste. Aí estaria uma primeira ligação natural com o próprio cajueiro. Quando criança, em Mata Grande, a casa onde morava tinha um imenso e belo cajueiro, que nos dava uma bela sombra para brincarmos de chimbra e triângulo. Mas num dia frio de chuva torrencial, o amanhecer veio-me com a notícia de que nossa grande árvore havia sido derrubada, partida ao meio, por um raio. Lá estava nosso cajueiro prostrado.



Dali em diante, aquela beleza do fruto, amarelo, vermelho, comprido ou redondo, passei a encontrar, contemplar e saborear em outros locais. No quintal da minha casa restaram duas laranjeiras, de frutos também belos, e uma goiabeira, aquela onde uma louca da rua subia sem calcinha enquanto os meninos brincavam no chão de barro. Encontrar cajus agora era no sítio de seu Panta, no Almeida e alguns outros belos lugares do pé da serra da onça.



Depois que nos mudamos para Natal, comprávamos caju na feira do Alecrim. Mas nenhum tinha a beleza nem o gosto daqueles cajus de Mata Grande. Nem sabia naquele tempo que perto daqui ficava o maior cajueiro do mundo. E nas andanças pelas estradas e praias, foi sempre natural esse contato com o caju. No tempo que bebia bebida alcoólica, que tira-gosto! Nas lanchonetes ou em casa, que suco! E que doce!



Em meio a esse dia-a-dia, foram estimulando a festa do caju, na Redinha. Tive necessidade, certa vez, de ir ao encontro de um médico amigo, logo aonde: no cajueiro, comunidade de Touros. Na antiga policlínica, havia um funcionário conhecido em Natal inteira como caju. Em nosso meio, nosso amigo repórter fotográfico Carlos Santos – que deixou nosso convívio há uma semana – também recebeu esse apelido. Nos anos 80 do século passado, muitos devem lembrar de um trabalho de Juca Chaves que ganhou o sugestivo título de “Vá tomar caju”.



Mas a essência maior, o néctar dos mortais, vem deste fruto e passa por um processo muito interessante. Parece que ainda não descobriram quão saboroso é, haja vista a dificuldade que temos de encontrá-lo. Só vendido mesmo em poucos lugares isolados e algumas raras lojas de produtos regionais, quando não está em falta. Trata-se da cajuína, que não encontramos em nenhum supermercado, apesar de inúmeros apelos já feitos, debalde, às ouvidorias.



Pelo mundo afora tem gente que não gosta ou ainda não se acostumou com o caju. Deve ter gente que também não vai gostar nem se acostumar com a cajuína. Mas, gosto é gosto. Gosto muito.

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