quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

É MANHÃ EM MATA GRANDE - José Fagner


É manhã em Mata Grande. Sinto bater com suavidade em meu rosto uma brisa matinal, uma brisa bem diferente das que já tenho sentido. Quando me ausento desta terra querida e quando o amanhecer desponta em terra estranha, logo me vem a vontade de comparar: será que o amanhecer desse lugar se parece com o de Mata Grande?

Ao me expor em terra estranha, pela manhã, aí percebo que nada se assemelha com a minha terra. Na minha terra, bem cedinho, tem brisa, tem o raiar do sol, tem noite se dissipando, tem o apagar das luzes. Tem banda tocando, tem pássaros cantando, tem a sinfonia das cigarras, tem o burburinho dos animais. E tem gente se acordando para um novo dia! Tem trilha, tem o ar puro, tem a relva das serras, tem perfume no ar. Eu não sei de onde vem esse perfume! Se da relva, se das serras, se das matas... só sei que eu sinto essa fragrância matinal que me faz bem. Aí eu vejo que nada se compara com o meu lugar.

O meu lugar é único, é lindo e é muito bom de viver. E ao passar o matutino, já recebo com ansiedade o vespertino, pois a alvorada já se foi. E estonteado de imaginação, logo me vejo assentado no mirante de pedras do Monte Santo, pois, sendo final de tarde, é de lá que em meio ao sussurro da ventania, contemplo mais um belo pôr do sol. Então o dia vai se findando, o sol tão empolgante se despedindo por trás dos montes e a penumbra sorrateiramente vai invadindo todo lugar, a começar pela fonte do Cumbe, a fonte-mãe de Mata Grande.

 E do alto do Monte Santo, sem querer perder nenhum detalhe de vista, os meus sentidos observam grandeza da natureza, revelada como um fascínio, pois não sendo dia e nem noite, o crepúsculo de cor alaranjado e a penumbra da tarde se misturam com o acender das luzes, tornando ainda mais o momento surpreendente, espetacular, fascinante. E ao vislumbrar tanta beleza, daqui do alto, ainda contemplo focos de luzes pontilhando toda cidade, a começar por suas ruas aladeiradas e a Serra da Onça tão apreciada e tão gigante aos nossos olhos, sendo ofuscada pela escuridão da noite. E percebendo que o tempo se foi e que o vento veloz ainda sopra sobre mim e que a hora de recolher-me em meu aposento chegou, então, com a saudade batendo forte em meu peito, digo: já vem raiando um novo dia! Logo, será manhã em Mata Grande!
José Fagner
(Fagner Box)

 

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