A música “TRISTE PARTIDA” do famoso rei do baião Luiz Gonzaga começa
assim: ... "setembro passou por outubro e novembro já está em dezembro e o
mesmo verão..” e ainda hoje, em pleno dia de Santos Reis, continuamos no
aguardo da tão desejada chuva de trovoada que venha encher de água as barragens,
barreiros, cisternas e riachos para
dirimir a sede dos nossos irmãos sertanejos e também dos animais que, na
pior das secas dos últimos quarenta anos castiga o sertanejo.
As grandes secas que assolam o solo nordestino são famosas pelas histórias que deixam, desde o tempo do
império, quando após a seca de 1888 o Rei Dom Pedro II pronunciou a seguinte
frase: “Venda-se o último brilhante da coroa,
contanto que nenhum brasileiro morra de fome”. Mandou construir grandes açudes, todavia,
somente a partir da era Vargas, houve a continuidade das construções de grandes açudes, no entanto, continuamos
a presenciar cenas desagradáveis.
No século passado as secas de 1915, 1932, 1950, 1970, 1983 e 1996 deram
maiores experiências aos nordestinos e governantes, passou-se então, a construção
de grandes obras de armazenamento de águas, com ênfase para as idealizações do canal do sertão em
Alagoas e da transposição de água do Rio São Francisco, além de poços tubulares
e cisternas que, sem sombra de dúvidas resolveriam grande parte da problemática
da seca.
Após a grande seca de 1932 o
Padre Cícero Romão Batista já aconselhava os romeiros, conforme se lê nos
escritos constantes no alto do morro em Juazeiro do Norte-Ce, próximo a sua
estátua os quais dizem:
"Não toquem fogo no roçado, nem na caatinga; não cacem mais e
deixem os bichos viverem; não criem boi e nem bode soltos; façam cercados e
deixem o pasto descansar para se refazer; não plantem em serra acima; nem façam
roçado em ladeira muito em pé; deixem o mato protegendo a terra para que a água
não a arraste e não se perca a sua riqueza; façam uma cisterna no oitão de suas
casas para guardar a água da chuva; represem os riachos de cem em cem metros,
ainda que seja com pedra solta; plantem cada dia, pelo menos, um pé de
algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo
seja uma mata só; aprendam a tirar proveito
das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem
ajudar vocês a viverem com a seca.
Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se
acabando, o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer; mas, se não
obedecer, dentro de pouco tempo o sertão vai virar um deserto só".
Na seca de 1950 o então governador de Alagoas
Arnon de Mello mandava distribuir leite em pó para os flagelados da seca. Por
conta da seca de 1970 adquiri uma parte de terras e comecei a sofrer os efeitos
da seca que se estendem até os dias atuais.
Ultimamente a redenção seria o “canal do
sertão”, sabe-se que os recursos seguem
daqui de Brasília há mais de quinze anos e o canal ainda não favoreceu com água
nenhum habitante. Ouvi dizer que, doravante, será administrado pela CODEVASF, o
que reacende as nossas esperanças de que desta vez a coisa vai andar.
O governo está implantando as tão faladas
cisternas, mas, se não chover continua o sertanejo sem o precioso líquido.
Não resta a menor dúvida de
que o nordestino tem sido negligente; quando o período de seis, oito anos é bom,
ele se esquece de plantar mais palma, de conservar os poços tubulares e artesianos,
de se preparar para possíveis secas e quando ela se apresenta, encontra principalmente
o homem do campo totalmente despreparado para o enfrentamento dos meses de
estiagem, é o que está acontecendo agora.
Mais uma seca, mais uma
lição para nós nordestinos, uma vez que esquecemos com facilidade o passado e os
sábios ensinamentos do Pe. Cícero, dando mais uma oportunidade para os
políticos se beneficiarem dos efeitos da seca.
Para nossa grata surpresa o "Cada Minuto" divulgou que em 25.01.2013 começaram a bombear água para os primeiros sessenta e cinco quilômetros do Canal do Sertão o que deveria estar acontecendo há alguns anos.
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